Portugal,
Avante
Guantanamo a Setback for Civilization
Translated By Brandi Miller
June 15, 2006
Portugal - Avante - Original
Article (Portuguese)
The news ran
in bulletins apparently without impressing the world: last Saturday, three
prisoners were found dead in their cells at the American military prison at Guantanamo.
The U.S.
Department of Defense has frequently congratulated itself for "never
having lost a life in Guantanamo." This was an
attempt at "preemptive propaganda," to reduce the global condemnation that
arose the very day this contemptible American military prison
opened in 2002, provocatively installed on a base encrusted in Cuban territory.
The brutal comments made by American authorities about what happened
added to the confusion, especially for the commander of this detention center,
Admiral Harry Harris, who declared: "It was an act of war."
[Editor's
Note: Admiral Harris' full comment was, "They have no regard for human
life, neither ours nor their own. … It was an act of asymmetric warfare against
us."]
It is a
wonder that given the admiral's reasoning, he didn't have the corpses shot to
punish them for this "act of war"… Perhaps that way, some sense could
be made of President Bush's bizarre insistence, in commenting on the deaths of
the three prisoners, that, "the bodies be treated with a maximum of
respect." Through the thick fog of Bush's ignorance, this perhaps provides
a glimpse of the essential mechanisms that move his administration …
The truth
is that Guantanamo is an abnormality of such
dimension that even the Bush Administration's allies are compelled to declare
that the prison, "is a place without law." And that "either they
move it to the U.S. or they close it," as Britain's minister for
Constitutional Affairs, Harriet Harman told the BBC, or that Guantanamo is, "an anomaly that must end," as was
recently said by Britain's own Prime Minister, Tony Blair.
So far
the democratic world, unquestionably the most civilized, and the social and economic
leaders of the planet, have limited themselves to vague and inconsistent
protests against this indignity. This is all while they actively collaborate with
the Bush Administration, as was recently discovered with the famous "CIA
planes" that transport prisoners to Guantanamo and other prisons, where they can be tortured without imposing direct responsibility
to the U.S. and other E.U. nations, like Great Britain,
Spain, Italy, France or Portugal, just to mention a few.
In fact,
what is happening at Guantanamo stinks to high heaven
and reflects the grotesque and extremely dangerous law of might, which
the Bush Administration has dared to re-implant on global affairs.
In Guantanamo, on the pretext of "combating terrorism"
and "defending America," the Bush Administration claims the right to
arrest any person captured anywhere in world. The
American secret services, on mere suspicion, denies these people all legal rights, such as the
right to a legal defense, the right to be formally charged, or to be
recognized as a prisoner of war, a citizen, or even a person.
Relief of Hammurabi, 1792-1750 B.C.,
from the chamber of the U.S. House of
Representatives.
[Hammurabi]
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From
its seat of power, the Bush Administration has caused the regression of human
civilization a good 4,000 years, back to the "Code of Hamurabi,"
when for the first time laws were adopted recognizing the duties and rights between people in society ...
This is
also what happened under the German Nazis, before the mass slaughtering began. As
Hitler and his criminal regime incarcerated millions of people in concentration
camps in the name of "defense of living space," the "democratic
world" in Great Britain, France, and the United States twiddled their
thumbs, looking to profits from their bogus business with the great Nazi power.
Portuguese Version Below
Três mortos
A notícia correu todos os noticiários sem, aparentemente, impressionar o mundo: no sábado passado, três prisioneiros foram encontrados mortos nas suas celas da prisão militar norte-americana de Guantánamo.
O Departamento de Defesa dos EUA congratulava-se frequentemente por «jamais ter perdido uma vida em Guantánamo», numa provável tentativa de «remissão propagandística» que mitigasse a condenação maciça que lavra pelo mundo desde o primeiro dia de funcionamento desta ignóbil prisão militar norte-americana provocatoriamente instalada em 2002 numa base incrustada em território cubano. Deixou de o poder fazer, ficando desoladoramente escarolados os comentários brutais das autoridades norte-americanas sobre o acontecimento, com relevo para o comandante deste centro de detenção, o almirante Harry
Harris, que declarou: «Foi um acto de guerra».
Só faltava que, na decorrência deste raciocínio do almirante, agora também fuzilassem os cadáveres para lhes castigar «o acto de guerra»... Talvez assim faça algum sentido a bizarra insistência do presidente Bush,
no seu comentário às mortes dos três prisioneiros, para que «os corpos sejam tratados com o máximo respeito». Por entre o nevoeiro da sua espessa ignorância, quiçá o homem tenha uma ideia sobre os mecanismos essenciais que movem a sua administração...
O certo é que Guantánamo é uma anormalidade de tal dimensão, que até aliados caninos da administração Bush se vêem compelidos a declarar que esta prisão «está numa terra sem lei», pelo que «ou a mudam para os EUA ou a fecham», como declarou à BBC a ministra britânica dos Assuntos Constitucionais, Harriet Harman, ou que Guantánamo é «uma anomalia que tem que acabar», como disse recentemente o próprio primeiro-ministro britânico, Tony Blair.
Até agora, o mundo dito democrático, civilizado e incontestavelmente na liderança sócio-económica do planeta tem-se limitado a formalizar protestos tão vagos como inconsequentes contra esta indignidade, enquanto à sorrelfa colaboram activamente com a administração Bush, como se descobriu recentemente com os famosos «voos da CIA» a transportar prisioneiros para Guantánamo e outras prisões onde pudessem ser torturados sem responsabilização directa dos EUA
e através dos territórios de vários países da União Europeia, como Grã-Bretanha, Espanha, Itália, França ou Portugal, para falar apenas de alguns.
Na verdade, o que se passa em Guantánamo brada aos céus e é o espelho da grotesca e perigosíssima lei do mais forte que a administração Bush ousou reimplantar nas relações mundiais.
Em Guantánamo, e a pretexto de
«combater o terrorismo» e «defender a América», a administração Bush arrogou-se no direito de prender quaisquer pessoas capturadas em qualquer parte do mundo apenas por «suspeitas» engendradas ou coligidas por serviços secretos norte-americanos, negando a essas pessoas quaisquer direitos, sejam os de defesa jurídica,
de acusação formal ou sequer de existência como prisioneiros de guerra, cidadãos ou, mesmo, pessoas.
De uma assentada, a administração Bush fez recuar a civilização humana até aos primórdios do «Código de Hamurabi», há uns bons 4000 anos, quando pela primeira vez se coligiram leis reconhecendo a existência de deveres e direitos entre pessoas em sociedade...
Foi também o que aconteceu na Alemanha nazi, ainda antes do desencadear da hecatombe, quando Hitler e o seu regime facínora já encarceravam em campos de concentração milhões de pessoas em nome da «defesa do seu espaço vital», enquanto o «mundo democrático» na Grã-Bretanha, na França e nos EUA assobiavam para o ar, procurando lucrar em negócios cada vez mais espúrios com a grande potência nazi.