Diario Economico ,
Portugal
Warren Buffet: Champion of the Dispossessed?
By Martim Avillez Figueiredo
Translated By Brandi Miller
July 9, 2006
Diario Economico - Portugal - Original Article (Portuguese)
When it comes to the incredible donation that the second
richest man in the world (Warren Buffet) made to a foundation administered by
the richest man in the world (Bill Gates), two incentives have been overlooked.
One
involves the idea that the profits of a very small number of people depend on
the existence of many others. The other explores the right to endow such
benefits upon others - one’s position on inheritances.
The
facts: Buffet, a stock market investment wizard, has offered 80% of all the
money he has generated during his life - which is the equivalent of Portugal giving away over
40% of all the wealth generated in the country this year. To justify his
gesture, Buffet highlighted that he would bequeath a sufficient sum to his
children so that they could do as they wished, and leave the rest to compensate
the world for his luck in the complex genetic lottery.
With this
one brief phrase, Buffet did more to further the debate on social equality than
all of the doctoral theses that have ever been written on the subject. In other
words, he supported the theory of redistribution (the idea that wealth itself
is a tool of the community) and that the right to endow
one's heirs is the enemy of meritocracy (the notion that inheritances serve only
to permit certain people, without effort, to obtain what is initially forbidden
to others). Complex? Very. So much so that the subject can’t be covered in a
short editorial like this one.
Warren Buffett: Redistributing his wealth
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Even so, and
in brief, the argument over what motivated Buffet to make this historic
donation centers on the idea that there are benefits, being derived from all, are
not equally lucrative for all. And it is exactly this fact, that only a few will ever
be capable of such an achievement, that so well illustrates the contributions of
others. That is, we value this general incapacity - because if everyone were like
Warren Buffet, he wouldn't be capable of such a gift. In the same way, we understand
inheritance as a benefit that perverts this logic - if everyone had
whatever they wanted, no one would care about profits or investing these resources. The result? Buffet, with his multi-billion dollar donation, obliges
the world to think.
At the Diário Económico, we will not let this matter die. We will
return to it as much as necessary to ensure that the debate does not end over
what appears to some as the extravagance of a single American. To do so would compromise
this newspaper's commitment to the essential - the common good.
Portuguese Version Below
Compromisso
Diário Económico
Dois incentivos têm passado à margem da incrível doação
que o segundo homem mais rico do mundo (Warren Buffet) fez à fundação
administrada pelo homem mais rico do mundo (Bill Gates).
Martim Avillez Figueiredo
Um envolve a ideia de que os ganhos de umas
quantas pessoas dependem da existência de outras tantas pessoas. O outro
explora a bondade dos direitos de transmissão – a postura perante as heranças.
Os factos: Buffet, um mágico dos investimentos em bolsa, ofereceu 80%
de todo o dinheiro que gerou ao longo da vida – o equivalente a Portugal
oferecer mais de 40% de toda a riqueza gerada este ano no país. Para justificar
o gesto, Buffet sublinhou que aos filhos deixou o suficiente para que façam
alguma coisa e que esta foi a forma que encontrou para compensar o mundo pela
taluda que lhe calhou na complexa lotaria genética.
Numa curta frase, portanto, Buffet fez mais por todas as teorias que
se batem pela procura de igualdade social do que as muitas teses de
doutoramento que já foram escritas sobre o assunto. Ou seja, sustentou a teoria
da redistribuição (a ideia de que a riqueza se alavanca na propriedade comum) e apoiou a tese de que os direitos de transmissão são
inimigos da meritocracia (a noção de que as heranças servem apenas para
permitir que algumas pessoas, sem esforço, tenham o que é inicialmente vedado a
outras). Complexo? Muito. Tanto que o assunto não se esgota num editorial
assim, curto.
Mesmo assim, e em poucas linhas, o argumento em torno destes
incentivos que empurraram Buffet para uma doação histórica sustenta-se na ideia de que existem bens que, sendo de todos, não são
igualmente rentabilizados por todos. E é justamente o facto de apenas alguns
serem capazes dessa proeza que evidencia o contributo dos outros. Isto é, que
valoriza a sua incapacidade – porque se todos fossem como Warren Buffet, este não sobressairia. Da mesma forma, a herança é aqui
entendida como um benefício que perverte esta lógica –
se todos tivessem tudo à partida, nenhum se empenharia na rentabilização desses
recursos. Resultado? Buffet, com a sua doação milionária, está a obrigar o mundo a pensar.
No Diário Económico, não deixaremos morrer este assunto. Vamos regressar a ele as vezes que forem
necessárias para que o debate não morra no que parece ser uma extravagância de
um americano. Está dito: é um compromisso de um jornal que se compromete com o
essencial – o bem comum.