O Globo,
Brazil
It's Not Rumsfeld, But Bush that Should Be Dismissed
“The resignation of Defense Secretary Rumsfeld pleases military leaders ... But the American generals are mistaken. Bush is the one who should have been fired.”
By William Waack*
Translated By Brandi Miller
November 9, 2006
Brazil - O Globo - Original
Article (Portuguese)
George W. Bush: Rebuked.
—C-SPAN VIDEO: White House press conference with
President Bush, where he responds to the resounding
rejection of himself and his party in the midterm
elections, Nov. 8, 00:43:11
—C-SPAN VIDEO: President Bush, Defense Secretary
Donald Rumsfeld, and Robert Gates on the 'resignation'
of Secretary Rumsfeld, Nov. 8, 00:12:21
Just hours after the midterm elections end, George W. Bush
replaces the very personification of his Iraq War policy, Defense
Secretary Donald Rumsfeld. He will be replaced with Robert Gates,
who the Senate rejected as CIA chief under George H.W. Bush.
Former Secretary of State James A. Baker III: Can the
Bush 41 veteran help put the Bush 43 presidency back
together again?
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In regard to the bloody catastrophe in Iraq, the electoral defeat of Bush and the Republicans
was a shout for change made manifest. It would be difficult to imagine a more
sensational spectacle.
Beginning
with Iraq: the resignation of Defense Secretary Donald Rumsfeld, above all
pleases military leaders. To them, the "civilians" (that being
Rumsfeld and his neo-conservative advisors) are responsible for a situation in
which American combatants never lose a confrontation and never win the war. But
the American generals are mistaken. Bush is the one who should have been fired,
most of all for his political calculations - miscalculations that
force the military to find a cure, as best that it can.
The new
man in the Pentagon, Robert Gates, led the CIA during the time that Bush's
father occupied the White House. He is part of the bipartisan commission led by
James Baker III, another old friend of the President's father. Pragmatic and
an adherent of another kind of Republican conservatism, Baker should present a new
strategy for Iraq by January.
Strategic
options that fall between "tolerable" and "horrible,"
were well summarized by New York Times columnist Thomas Friedman. The
U.S. can either stay on the sidelines while Iraqis kill one another until they
end the ethnic cleansing on their own; or the U.S. can
withdraw and leave neighboring countries (mainly Iran, Turkey and Syria) to sort
the chaos in their respective areas of influence - with incalculable and
unforeseeable consequences.
If in
Iraq there appears little that will radically alter the situation, the same can
be said in regard to America's relations with its allies. It is impossible to hide the Schadenfreude (that excellent German term meaning to take pleasure in the misfortune of
others) of Europeans over Bush's defeat. After all, "Old Europe" as
Rumsfeld used to characterize the reluctant allies to the American adventure,
felt vindicated in its collective belief that the worst part of Washington's foreign
policy was its ideological bias and distortion of the facts.
But even Europeans
properly point to the dangerous paralysis that was already being felt before the
electoral earthquake of last Tuesday (Nov. 7). The question of North Korea's
bomb is in the hands of China; the Iranian nuclear program is now in European
hands; and there is little hope for a toning down of the Israeli-Arab conflict.
In Afghanistan, there are now NATO troops trying to achieve what the Americans
couldn't. And Democrats have no new ideas to address these problems.
Hugo
Chávez celebrated Bush's defeat as if the Democrats could be considered "leftist"
in the sense that many use the term in Latin America . This is a deeply mistaken vision (which is shared by Nicaraguan
President-Elect Daniel Ortega, among others) as American politicians see
defense in terms of their own national interests - and as Latin American
politicians often ignore in their own nations. One of the Financial Times headlines well illustrates what awaits us: "Free Trade is the First Victim,"
stated the London daily, referring to one of the probable consequences of the
Republican defeat.
The 2008
Presidential campaign began on November 7 of this year, the date of the
tumultuous Bush defeat. What is not yet clear is if the vote that brought the
Republican Congressional collapse was pro-Democratic or just anti-Bush. In any
case, the next two years promise to be a paralyzing arm wrestling match between
Democratic leaders of Congress and Republican leaders in the White House.
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It is likely
that over the next two years, the Democrats will be able to organize a united
front on domestic policy (raising the minimum wage, social security, health
care, national security and judicial relations, among others), but it will be the
leadership qualities of the top Democratic leaders that will dictate
whether American foreign policy really changes.
But for now,
these elections must simply be seen as a shout of "enough!"
* William
Waack's analysis is Jornal da Globo's international anchor, and was an
international correspondent for 21 years. His column appears on Tuesday and
Thursday.
Portuguese Version Below
Derrota de Bush foi um grito dos americanos por mudanças
By William Waack*
09/11/2006
Tão sangrenta quanto a catástrofe no Iraque, a derrota eleitoral de Bush e dos republicanos foi a expressão de um grito por mudanças.
O difícil é imaginar que elas possam ser espetaculares.
Começando pelo Iraque: a demissão do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, agrada sobretudo aos chefes militares, para quem os "civis"
(isto é, o próprio Rumsfeld
e seus assessores neoconservadores) são os responsáveis por uma situação na qual os combatentes americanos nunca perdem um confronto e nunca ganham a guerra. Os generais americanos estão enganados. Bush é quem deveria ter sido demitido, sobretudo pelo erro de cálculo político -uma falha que força militar alguma consegue sanar, por melhor que seja.
O novo homem no Pentágono, Robert Gates, dirigiu a CIA [a agência de inteligência norte-americana] nos tempos em que Bush pai ocupava a Casa Branca. Ele faz parte da comissão bipartidária dirigida por James Baker III, outro velho amigo do pai do atual presidente. Pragmático, vindo de outro tipo de conservadorismo republicano, Baker deverá apresentar até janeiro uma proposta de nova estratégia para o Iraque.
As possibilidades estratégicas, muito bem resumidas pelo colunista Thomas
Friedman, do "New York Times", se limitam a optar entre o "tolerável" e o "horrível". Ou seja: ficar na linha de lado do campo enquanto os iraquianos se matam até completarem as limpezas étnicas hoje em andamento, ou sair e deixar que os países mais próximos (Irã, Turquia e Síria, principalmente) se entendam sobre o caos nos seus respectivos quintais -com conseqüências incalculáveis e imprevisíveis.
Se no Iraque já não há muito o que mudar radicalmente, nas relações com os principais aliados também não. Indisfarçável é a "Schadenfreude" (essa excelente palavra alemã que significa alegria com a desgraça alheia) dos europeus pela derrota de Bush -afinal, a "velha Europa", como Rumsfeld costumava caracterizar os relutantes aliados da aventura americana, sentiu-se vingada nas previsões de que o pior da política externa de Washington
era o viés ideológico e a distorção dos fatos.
Mas os próprios europeus apontam para uma paralisia perigosa, já sentida antes do terremoto eleitoral da última terça feira (7). A questão da bomba da Coréia do Norte está nas mãos da China; a do programa nuclear iraniano, de
novo nas mãos européias; o conflito árabe-israelense, sem nenhuma perspectiva de que sequer possa ser atenuado. No Afeganistão, são agora tropas da Otan que estão tentando consertar o que os americanos não conseguiram fazer. Não há idéias novas dos democratas para qualquer desses problemas.
Hugo
Chávez comemorou a derrota de Bush como se os democratas pudessem ser considerados "esquerdistas"
no sentido que muitos empregam na América Latina. É uma visão (compartilhada por Daniel Ortega, entre outros) profundamente equivocada da maneira como os políticos americanos enxergam a defesa de seus interesses nacionais -e como os latino-americanos acabam ignorando os próprios. Uma das manchetes do "Financial
Times" é bem ilustrativa do que nos espera: "o livre comércio é a primeira vítima", assinalou o diário londrino, referindo-se a uma das prováveis conseqüências da derrota republicana.
A campanha presidencial de 2008 começou no dia 7 de novembro deste ano, a data da estrondosa derrota de Bush. O que não está claro ainda é se o voto que derrubou o partido republicano no Congresso foi pró-democrata ou apenas anti-Bush. De qualquer maneira, os próximos dois anos prometem ser de uma queda-de-braço paralizante entre democratas donos do Congresso e republicanos donos da Casa Branca.
É provavelmente o que os democratas conseguirão organizar em termos de idéias coerentes nos próximos dois anos na política doméstica (aumento do salário mínimo, seguros sociais e de saúde, protecionismo, relações com o judiciário, entre muitos outros), junto da própria qualidade da liderança de seus principais políticos, que dirá o que realmente vai mudar na política externa americana.
Por enquanto,
é apenas ainda um grito de "basta".
*A análise aprofundada da política internacional está na coluna do âncora do "Jornal
da Globo", que foi correspondente internacional por 21 anos. Às terças e quintas.