O Globo,
Brazil
Bush is Utterly Sincere: He's 'Got Nothing in His Head'
"Insincerity
is probably not something you will ever be able to accuse the American
president of. He is even capable of admitting that he still has nothing in his
head."
By William Waack*
Translated By Brandi Miller
December 21, 2006
Brazil - O Globo - Original
Article (Portuguese)
The
president of the United States, George W. Bush, is facing the classic dilemma of
all military commanders: Will sending more troops into the bonfire of Iraq help
me win the war? Bankers tend to be more cynical when confronted with the same
situation. They dislike, as they say, to "throw good money after bad,"
or in other words, to lend even more when the creditor threatens not to pay.
The
military decisions in Iraq today are political decisions, and that is where the
game becomes fascinating. Bush publicly admitted on Wednesday (Dec. 20th),
for the first time, that he is not winning the war in Iraq Watch , and
that one of the ideas he is examining is to significantly increase the number
of American soldiers in Baghdad. His principal mission: to put troops into what
is left of mixed Sunni-Shiite neighborhoods and, at least for some time, to avoid
Iraqi on Iraqi attacks.
The key
objective of the American armed forces would be essentially political - and not
very military. There is no way to give more responsibility to the Iraqi
government, both Republicans and Democrats argue, without guaranteeing a
minimum of order, security and stability. The vicious circle installed by the
Americans can be explained in the following way: There are too few American
troops to police the country; the number of Iraqi troops are also insufficient
and cannot be trusted; and the more violence and ethnic cleansing increases,
the more vulnerable and impotent the Americans - and the government in Baghdad
- seem to be.
But
putting more soldiers into the fire will only make the situation worse, create
more targets for the insurgency and, in the end, only increase
Iraqi government dependence on the Americans. One who makes this argument is General
John Abizaid, commander of the American forces in the Middle East and the main
advocate for a strategy calling for the smallest possible number of troops in
Iraq. Abizaid also announced this Wednesday (Dec. 20) that he will retire -
signaling a possible radical change in American military strategy.
The
strategy Bush chooses will depend on his capacity to formulate a political
objective. The American president didn't refuse, but neither did he embrace the
recommendations of the Iraq Study Group, which has made seventy nine
suggestions on how to get out of the mud pit. Nor did he signal that he intends
to reach any kind of understanding with America's two declared enemies in the
region, both of which have great influence on what happens in Iraq: Syria and
Iran.
Worse still:
the only reasonably calm and secure region in Iraq, the region known as Kurdistan , is under
threat of Turkish invasion. The Kurds are moving forward on a clearly
separatist project and are seeking to control the rich oil fields surrounding
Kirkuk . Already contending with a considerable Kurdish minority on
their own territory, the Turks have already said that they will not tolerate a
neighboring Kurdish State. The pretext for the invasion (that specialists say already
has a date: as soon as the snow melts some time around March of next year) has to
do with the Americans, who have so far failed to dissuade the Kurds from
organizing guerrilla attacks against Turkey.
Bush's
lack of vision for Iraq was already a risk when, from a military point of view,
things were less grave than they are today. At present, American president's lack
of political direction strongly constrains his own Republicans, who believe that if Bush is incapable of drawing up a plan to leave Iraq, there will be an electoral disaster of monumental proportions.
The idea
of increasing the number of troops as a way of at least "stabilizing"
Baghdad is very unpopular in the United States. To leave things as they are, in
the hope that the Iraqis will reach some sort of understanding is unpopular as
well. Bush let slip a comical sentence in his last press conference of the
year, this week, when he was asked whether he had already formed an opinion on
a strategy to follow. "We'll listen to ideas from every quarter," he
said.
Insincerity
is probably not something you will ever be able to accuse the American
president of. He is even capable of admitting that he still has nothing in his
head.
Portuguese Version Below
Bush,
o sincero, não tem nada na cabeça
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, está diante de um clássico dilema de todo comandante militar. Colocar mais tropas na fogueira do Iraque vai fazer com que eu vença a guerra? Banqueiros costumam ser mais cínicos confrontados com a mesma situação. Eles detestam, como dizem,
"jogar mais dinheiro atrás de dinheiro ruim", isto é, emprestar ainda mais dinheiro quando o credor ameaça não pagar.
As decisões militares no Iraque hoje são decisões políticas,
e aí o jogo se torna fascinante. Bush admitiu na quarta-feira (20) em público, pela primeira vez, que não está ganhando a guerra no Iraque. E uma das idéias que ele está examinando é aumentar significativamente o número de soldados americanos em Bagdá. Sua missão principal: instalar-se no que resta dos bairros mistos sunitas-xiitas e, pelo menos por algum tempo, evitar os ataques de iraquianos contra iraquianos.
O objetivo central das forças armadas americanas seria apenas político, e bem pouco militar. Não há como passar ao governo iraquiano responsabilidades mais amplas, argumentam republicanos e democratas, sem garantir um mínimo de ordem, segurança e estabilidade. O círculo vicioso instalado pelos próprios americanos pode ser lido da seguinte maneira: há poucas tropas americanas para policiar o país. Tropas iraquianas são em número insuficiente,
e pouco confiáveis. Quanto mais aumenta a violência e a limpeza étnica, mais vulneráveis e incapazes parecem os americanos -e o governo em Bagdá.
Mas jogar mais soldados na fogueira só piora a situação, cria mais alvos para a insurgência e, no final, só aumenta a dependência do governo iraquiano em relação aos americanos. Quem argumenta assim é o general John
Abizaid, comandante das forças americanas no Oriente Médio e o principal articulador da estratégia do menor número de tropas possível no Iraque. Abizaid anunciou também nesta quarta feira (20) que vai passar para a reserva -sinalizando uma possível mudança radical da estratégia militar americana.
Ela vai depender do objetivo político que Bush for capaz de traçar. O presidente americano não recusou mas também não acolheu as recomendações do grupo de estudo do Iraque, que fez 79 sugestões de como (no fundo) sair do atoleiro. Nem deu sinais ainda de que pretende abrir qualquer tipo de entendimento com dois declarados inimigos dos americanos na região, e que têm grande influência nos acontecimentos no Iraque: a Síria e o Irã.
Pior ainda: a única região razoavelmente tranqüila e segura no Iraque, a do Curdistão, está sob ameaça de invasão turca. Os curdos estão levando adiante um projeto claramente separatista, e apoiado no controle de ricos campos de petróleo ao redor de Kirkuk. Às voltas com uma considerável minoria curda no próprio território, os turcos já disseram que não vão tolerar um Estado curdo vizinho. O pretexto para uma invasão (que os especialistas já dizem ter data marcada: assim que a neve se derreter na região em março do ano que vem) tem a ver com os americanos, que não conseguiram até agora demover os curdos de organizar ataques de guerrilha contra
a Turquia.
A falta de visão de Bush para o Iraque já era perigosa quando, do ponto de vista militar, as coisas estavam menos graves do que hoje. Atualmente, a falta de orientação política do presidente americano constrange fortemente os próprios republicanos, que acreditam num desastre eleitoral de profundas conseqüências se Bush não for capaz de desenhar uma saída do Iraque.
Aumentar o número de soldados como forma de "estabilizar" pelo menos Bagdá é muito impopular nos Estados Unidos. Deixar as coisas como estão, na esperança de que os iraquianos atinjam algum tipo de entendimento, também. Bush soltou uma frase engraçada na sua última entrevista coletiva do ano, esta semana, quando indagado se já havia formado uma opinião sobre a estratégia que deverá seguir. "Eu estou aceitando conselhos que venham de qualquer lugar", disse.
De insinceridade provavelmente jamais se poderá acusar o presidente americano. Ele é capaz de dizer até que não tem ainda nada na cabeça.
William Waack