Bush Attempts to Conceal Crisis with Optimistic Speech

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Pelo menos em Washington o St. Patricks´ Day, nesta segunda (17), deveria ter sido um dia só de festa. Ficou popular também nos Estados Unidos comemorar (em geral, com muita cerveja) o dia do santo padroeiro da Irlanda. Mas George W. Bush cancelou a festa para falar de um assunto que ele diz que não é tão grave assim: a crise financeira mundial.

É óbvio para qualquer operador de mercado em começo de carreira que Bush (ou qualquer outro chefe de governo de economia importante) não poderia ter dito nada diferente do que foi ouvido hoje. Em vez de crise, o presidente americano prefere a palavra “desafio”. E chegaram os americanos à recessão? “Todo mundo vai nos invejar em pouco tempo”, respondeu.

Poderia-se esperar menos ainda que o presidente americano, ou qualquer um de seus principais subordinados, dissesse se o governo em Washington está disposto a salvar outros bancos em dificuldades (como foi feito com o Bear Stearns) ou se há outro pacote em preparação para aliviar a vida de inadimplentes do sistema hipotecário (Bush aprovou recentemente no Congresso um pacote de US$ 170 bilhões).

Então para quê convocar reuniões? E fazer pronunciamentos? Críticos citados principalmente pela imprensa européia dizem que a tentativa de Bush nesta segunda de contrapor palavras a um tsunami financeiro (de amplitude, profundidade e conseqüências ainda desconhecidas) lembra a crise de 1929, que tornou o então presidente republicano Herbert Hoover um personagem folclórico – por ter ignorado os sinais da catástrofe. “Bush se comporta exatamente como Hoover”, fuzilou hoje, no “International Herald Tribune”, o senador democrata Charles Schumer.

Não é muito mesmo o que o governo americano possa fazer no momento, fato reconhecido universalmente. O candidato republicano à Presidência, John McCain, divulgou uma nota elogiando a tentativa do Banco Central americano, o Federal Reserve, de dar ânimo ao sistema financeiro (nem que fosse salvando um banco que criou as próprias dificuldades) – e sequer mencionou Bush. A impotência do governo deixa os mercados tranqüilos. O medo deles é admitir que o Fed possa ter chegado ao final de seus instrumentos.

Ben Bernanke, o presidente da instituição, é respeitado no mundo acadêmico como um dos grandes estudiosos da depressão dos anos 1930, iniciada pelo crash de outubro de 1929. Mas o argumento principal dos céticos em relação à capacidade do Fed de atenuar a crise é de fundo: para combater uma questão de liquidez, nem o dinheiro do Fed (US$ 800 bilhões) adianta. Para combater uma crise de insolvência (isto é, inadimplência de quem tomou hipotecas), menos ainda.

Há algumas semanas o celebrado colunista Paul Krugman resumiu a característica mais preocupante da crise: ela é de confiança, a base do funcionamento de qualquer sistema econômico. Diante dela Bush parece, de fato, bastante pequeno. O mesmo tipo de solução para a recessão de 2001 (afrouxo monetário) já foi tentado e a crise parece estar se aprofundando com muita rapidez.

Se as conseqüências econômicas, como dito acima, são muito difíceis de serem previstas, as conseqüências políticas parecem razoavelmente claras, sobretudo para a política americana, que está diante de uma importante decisão em novembro próximo. A idéia de que o governo americano é incompetente ou incapaz alastra-se numa situação política na qual a palavra “mudança” é a mais pronunciada.

Mudança beneficia os democratas – e vai de encontro à percepção generalizada de um governo que tenta com palavras (mais uma vez) tapar a realidade. Mesmo quando Bush, como ocorre agora, não possa fazer outra coisa a não ser parecer otimista.

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