McCain’s Speech Breaks from Bush’s Neoconservatism

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Discurso de McCain rompe com o neoconservadorismo de Bush

Postado por William Waack em 27 de Março de 2008 às 20:22

Julguem vocês mesmos se críticos ferozes da política externa americana das últimas décadas (portanto, não só de George W. Bush) endossariam o próximo parágrafo:

“(Os Estados Unidos tiveram) a estratégia de se apoiar em autocratas para garantir ordem e estabilidade. Nós dependemos do Xá do Irã, dos governantes autocráticos do Egito, dos generais do Paquistão, da família real saudita e mesmo, por algum tempo, de Saddam Hussein (…). Os autocratas atacaram (a fermentação no mundo islâmico) com enorme repressão, ao mesmo tempo em que ajudavam sub-repticiamente ao radicalismo islâmico do lado de fora na esperança de não serem suas vítimas (…). Nós não mais podemos cair no engano de que apoiar-se nesses autocratas superados é a melhor aposta. Eles não garantem estabilidade duradoura, apenas a ilusão disso”.

Ou este, dedicado ao que deveria ser o comportamento dos Estados Unidos como a principal superpotência:

“Nosso enorme poder não pode significar que podemos fazer o que quisermos e quando quisermos, nem devemos assumir que somos donos de toda a sabedoria para fazer com que as coisas dêem certo. Temos de ouvir as opiniões e respeitar a vontade coletiva de nossos aliados democráticos”.

E que tal isto: “Não podemos torturar ou tratar de maneira desumana os suspeitos de terrorismo que capturamos (…) temos de fechar Guantánamo e trabalhar com nossos aliados para chegar a um novo entendimento internacional sobre o que fazer com detidos perigosos sob nosso controle”.

E como convencer o mundo que é necessário seguir com rigor as normas da não-proliferação de armas nucleares? “Temos de começar a reduzir nosso próprio arsenal nuclear, deveríamos liderar um esforço global de desarmamento, não precisamos de todas as armas que temos”.

Estes trechos acima foram retirados do discurso que o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, fez ontem (26/03) em Los Angeles. É um longo texto, cuja transcrição pode ser obtida no site Real Clear Politics. O discurso vale como sua plataforma de política externa, e atraiu a atenção da imprensa brasileira (com toda a razão) pela sugestão de se excluir a Rússia do G-8, em favor do Brasil e da Índia.

Lendo o texto, fica bem claro qual a idéia que orienta as várias sugestões feitas por McCain em seu discurso: a de que os Estados Unidos deveriam formar com outras grandes democracias uma espécie de “liga internacional”. Uma parte do texto sugere até a criação de “instituições”, não especificadas, para lidar com problemas como aquecimento global (ao qual McCain atribui grande prioridade) – sempre em conjunto com outros países emergentes. Nesse contexto, há duas citações ao Brasil.

É muito difícil no momento comparar a “plataforma republicana” com uma “plataforma democrata” simplesmente pelo fato de que Hillary Clinton e Barack Obama ainda estão preocupados em destruir-se mutuamente. As idéias de McCain, contudo, são um radical rompimento com o que neoconservadores e Bush praticaram nos últimos 8 anos. Não é só a questão de abandonar o multilateralismo, a guerra preventiva, a imposição de valores a outras partes do planeta: McCain está longe de propor um novo tipo de “isolacionismo”.

Do ponto de vista dos interesses do Brasil, o discurso do candidato republicano é atraente: promoção de acordos de comércio, fixação de metas para combater o aquecimento global, participação no G-8, crescente importância da América Latina para “os destinos dos EUA”, conforme McCain escreveu. Falta agora que o candidato ou candidata democrata à presidência discurse da mesma maneira – explicitando o que pretende fazer em termos de política externa.

Então será possível dizer qual deles, do nosso ponto de vista, seria o melhor.

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