Florence and Mangkhut

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Distanciando-se de Trump, líderes adotam postura pragmática diante da mudança do clima

O furacão Florence, que chegou à categoria 4 (numa escala de 5), havia retrocedido ao nível 1 antes de tocar a costa da Carolina do Norte (EUA). Logo foi rebaixado para tempestade tropical, com ventos aquém de 60 km/h, mas segue fazendo estragos com enchentes.

A tormenta despejou localmente até 750 mm de chuva. Contaram-se mais de 20 mortos nos Estados Unidos, até segunda-feira (17), e milhares de desabrigados.

Do outro lado do globo, o tufão Mangkhut castigou as Filipinas com dezenas de vítimas, a maioria delas composta por mineiros soterrados em deslizamento de terra (muitos deles ainda desaparecidos). Depois, provocou caos em Hong Kong e na província chinesa de Guangdong.

Mangkhut levou 450 mm de precipitação a localidades filipinas. Como o Florence, sua força destruidora se relaciona mais com a quantidade de água que mobiliza na forma de chuva do que com ventos.

A pluviosidade dos ciclones está em relação direta com a energia adicional aportada à atmosfera pelo aquecimento global. Oceanos mais quentes ensejam mais evaporação, o que produz chuvas, ressacas e inundações mais fortes —precisamente alguns dos eventos extremos previstos nos modelos que simulam a mudança climática.

Ainda assim, o presidente americano, Donald Trump, prossegue no desmantelamento de políticas de redução de emissões de carbono. O país que mais poluiu na história se retirou do Acordo de Paris (2015), negociado a duras penas e claramente insuficiente para conter o aquecimento em nível seguro.

Nem tudo são más notícias, porém. Na semana que passou, realizou-se em São Francisco (EUA) a Conferência Global de Ação Climática, com centenas de governadores, prefeitos e líderes indígenas empenhados em distanciar-se de Trump, e não só nos discursos.

Cem grandes empresas do setor de alimentos e fibras divulgaram investimentos bilionários em agricultura inteligente, para poluir menos o clima. Nove fundações pretendem doar o equivalente a R$ 1,9 bilhão até 2022 para incentivar povos tradicionais a preservar áreas de floresta.

Um grupo de 27 metrópoles, totalizando 54 milhões de habitantes, anunciou já ter reduzido suas emissões de carbono num período de cinco anos (mas nenhuma delas nos países em desenvolvimento).

Conforme as evidências se acumulam, vê-se, tomadores de decisão deixam as ideologias à parte e adotam uma postura pragmática diante da mudança do clima. Oxalá não seja pouco e tarde demais.

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