Obama ainda considera os EUA donos do mundo
• Análise
Barak Obama está apenas repetindo o que sucessivos governos estadunidenses fizeram ao longo do tempo na América Latina
21/02/2011
Mario Augusto Jakobskind
Mais uma vez o governo de Israel conseguiu, graças aos Estados Unidos exercendo o seu poder de veto, que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não condenasse as ilegais construções de assentamentos na Cisjordânia em território palestino.
E, como cúmulo do cinismo, tanto os EUA como Israel continuam falando em processo de paz. É impraticável se chegar à paz com o governo extremista de Benyamin Netanyahu e com um Ministro do Exterior, Avigdor Liberman, declaradamente racista contra os árabes, que autoriza colonos judeus, boa parte procedente dos Estados Unidos, a construírem casas em território que não lhe pertence.
O governo Barak Obama usou como pretexto vetar a resolução condenando construções israelenses em terras palestinas pelo fato de o Oriente Médio estar conflagrado e que a condenação poderia agravar o quadro. Trata-se, sem dúvida, de um pretexto sem eira nem beira. Não é a primeira vez que sucessivos governos estadunidenses ficam ao lado de Israel, mesmo o país cometendo flagrantes ilegalidades.
Já é hora da comunidade internacional agir com mais rigor contra Israel, já que via Nações Unidas nada acontece. O tempo vai passando e a criação de um Estado Palestino se arrasta. E isso, diga-se de passagem, mesmo levando-se em conta a absoluta moderação de dirigentes palestinos que controlam a área da Cisjordânia, que governariam o novo país.
Em outra área do planeta, os Estados Unidos decidiram disponibilizar no orçamento mandado por Obama para Congresso debatercinco milhões de dólares para a oposição ao governo do Presidente Hugo Chávez. O pretexto é o de que assim Washington ajudará ”a fortalecer e apoiar a sociedade civil venezuelana para proteger o espaço democrático”.
É muito cinismo e hipocrisia o governo Obama falar em democracia em um país rico em petróleo como a Venezuela e em que o governo anterior, o de George Bush filho, apoiou uma tentativa de golpe que acabou repelido em tempo pelo povo.
Mas em outros países petrolíferos, onde o povo, aí sim, vive totalmente subjugado por uma monarquia sanguinária como a da Arábia Saudita, nenhuma palavra de Barak Obama ou quem quer que seja nos EUA sobre democracia.
E tem ainda maior agravante. A provocação dos cinco milhões de dólares para a oposição a Chávez entra em choque com a legislação venezuelana, que dispõe sobre a proibição de financiamentos externos para fins políticos. Mas a Casa Branca pouco se importa em obedecer à lei de países soberanos. Nesse sentido, Barak Obama está apenas repetindo o que sucessivos governos estadunidenses fizeram ao longo do tempo na América Latina. O agravante é que Barak Obama, que está vindo ao Brasil agora em março (19 e 20) parece ainda não ter dado conta que boa parte dos países latino-americana não aceita mais ser considerados pátio traseiro de Washington.
Na Argentina, o governo de Cristina Kirchner foi obrigado a aprender o material de um avião estadunidense que simplesmente entrava no país de forma ilegal. O mesmo espírito que norteou governos passados valeu para agora. Os estadunidenses imaginavam que a Argentina é terra de ninguém. Deitaram e rolaram com armamentos e até aparelhos de espionagem que não foram declarados na aduana argentina, imaginando que tudo podem, inclusive omitir informações.
Agora o governo Obama está a exigir a devolução do material e usando uma linguagem agressiva dos tempos em que os governos ditatoriais aceitavam de bom grado ser o pátio traseiro de Washington. O Ministro do Exterior argentino, Héctor Timerman avisou simplesmente que a Argentina preza a sua soberania e não aceita imposições, como queria o Departamento de Estado no episódio em questão.
Espera-se que outros países da América Latina, especialmente os do Mercosul, tenham a mesma disposição de defender princípios e a própria soberania.
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