Abra o olho, Hillary: os óculos estranhos e o boato da epilepsia
Na véspera do primeiro debate com Donald Trump, a saúde da candidata democrata continua sob dúvida
Tontura, quedas, perda de controle dos membros, desmaios, convulsões. Qual líder de projeção mundial sofria desses sintomas? Júlio César, a mais gigantesca figura da Roma antiga. Seu mal foi diagnosticado a posteriori como epilepsia, com base em relatos históricos de Suetônio, que falava em “ataques”, e Plutarco (neurologistas contemporâneos defendem a tese de pequenos derrames cerebrais).
Diagnósticos remotos, feitos por amadores ou profissionais, também proliferam desde que Hillary Clinton sofreu um mal estar, desmaio ou coisa similar no último 11 de setembro. Filmada à distância, ela parecia ter perdido os sentidos ou, no mínimo, o tônus muscular.
Os representantes de Hillary tentaram desconversar, falando em “desidratação” e “insolação”. Hora depois veio a informação oficial de que estava com pneumonia. A boataria já estava solta e, diante dos ânimos convulsionados pela campanha presidencial, não voltou mais para a garrafa nem depois que sua médica, Lisa Bardack, divulgou uma avaliação mais detalhada.
Todos os movimentos de Hillary naquele dia passaram a ser examinados por outra ótica. Uma delas, literalmente voltada para os óculos escuros ovais que usava naquele dia. Em lugar de uma reação normal, compreensível por qualquer mulher (“Hoje estou um lixo e vou me esconder atrás dos óculos”), eles foram identificados como um modelo especial de lentes azuis Zeiss Z1.
De uso relativamente raro, estas lentes produzidas pela legendária fábrica da antiga Alemanha Oriental são indicadas para quem sofre de epilepsia fotossensível. O tom forte de azul, chamado de Z1, filtra os comprimentos de onda da luz visível – também conhecidos como cores -, eliminando os que podem desencadear ataques em que sofre esse tipo de epilepsia, mais conhecido pelos casos provocados por certos videogames.
Parece loucura e possivelmente é. Mas teorias desse tipo estão aumentando, se não à velocidade da luz, ao ritmo alimentado pela internet e pela proximidade do primeiro debate entre Hillary e Donald Trump.
Fora os conspiracionistas habituais, o único meio relativamente respeitado a entrar no campo dos óculos estranhos – e seus significados de tirar o fôlego – foi o American Thinker. O site também aponta informações curiosas no comunicado da médica de Hillary, algumas das quais já levantadas por médicos nada simpáticos a ela.
Não dá para acreditar em medicina de “direita” – ou de “esquerda” -, mas é verdade que a doutora Bardack falou num total de três tromboses já sofridas por Hillary. A mais grave foi numa veia que passa pelas membranas do cérebro. O trombo foi tratado com “anticoagulante para dissolver” o coágulo. O remédio mencionado, Coumadin, não dissolve coágulos e não costuma ser a primeira opção dos especialistas.
As especulações, das mais absurdas às comparativamente razoáveis, sempre estão ligadas a problemas de saúde que estariam na origem ou seriam a consequência ao episódio médico mais grave do histórico público de Hillary. Ela sofreu uma queda, em casa, em dezembro de 2012. Teve concussão cerebral – ou seja, bateu a cabeça, sem ter o reflexo corporal automático aos tombos, de protegê-la com os braços. Em seguida veio o diagnóstico de coágulo cerebral (ou a rara trombose venosa em seio transverso), tratado com medicação e repouso. Saiu do hospital usando óculos com prismas de Fresnel, para corrigir a visão dupla causada pelo incidente. Agora, outros óculos com nome estranho entraram na narrativa.
Para enfrentar Trump no debate de hoje à noite, Hillary precisa exibir não só bons argumentos, no que é evidentemente sua praia, como mostrar saúde de ferro. Numa analogia com a mulher de César, ela precisa não só ser saudável como parecer saudável.
Só para lembrar: a mulher, no caso, era Pompeia. Ela foi flagrada com um jovem da elite romana numa festividade religiosa da qual só mulheres podiam participar. César se divorciou dela e, entre crises de epilepsia, continuou sua carreira grandiosa até ser assassinado no complô dos senadores.
Os dados nessa campanha presidencial americana são lançados quase que diariamente. E Donald Trump já foi dono de cassino.
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