Americanos votaram livremente contra a democracia
Resultado da eleição nos EUA, quatro anos após tentativa de golpe no Capitólio, deixa claro que a aberração é Biden
Bem-vindos à campanha presidencial americana de 2028. A corrida nasceu nesta quarta-feira (6), já definida por uma certeza –a candidatura do vice-presidente eleito, J.D. Vance, pelo Partido Republicano.
A campanha começa também com uma incerteza garantida –a chance de realizar uma eleição presidencial livre e limpa se, nos próximos quatro anos, os vitoriosos Donald Trump e seu príncipe regente criarem o país Frankenstein que prometeram
Os indivíduos e as instituições que protegeram os americanos dos mais baixos instintos de Trump, no primeiro mandato, não estão mais a postos. A Suprema Corte, aparelhada por Trump, garantiu, este ano, que ele não deve pagar pelos crimes federais que cometeu.
O ar que você respira em São Paulo, a seca na Amazônia e a violência letal das tempestades que matam em qualquer parte, tudo sofrerá o impacto do segundo retrocesso em consenso climático que vem por aí. Há dias Trump repetiu num comício que o aquecimento do planeta é um embuste.
O espaço aqui é curto para mencionar a lista de maldades prometidas a muitos que exerceram sua liberdade e reconduziram à Casa Branca o homem que Joe Biden, ao se eleger, em 2020, classificou de aberração na história americana.
O resultado desta eleição, quase quatro anos depois da violenta tentativa de golpe de Estado no Capitólio, deixa claro que a aberração é Joe Biden.
Mesmo uma vitória apertada de Kamala Harris não mudaria um presente que testa de maneira brutal a democracia americana. A duração insana das campanhas políticas –a deste novembro começou em janeiro de 2021. Não é possível restabelecer a confiança pública no Executivo e no Legislativo se todo o establishment político se mantém em campanha perpétua.
Nada muda, apenas piora, na interferência estrangeira nas eleições dos EUA. Não dá para botar a culpa na Rússia neste ano. Moscou teve relativo sucesso em produzir vídeos falsos e telefonou para algumas seções eleitorais na Geórgia fazendo ameaças de bomba. Mas, agora, o elenco cresceu. O Irã afiou seu talento hacker, e a China preferiu não chamar atenção, tentando influir nas eleições legislativas e combater o que vê como hostilidade bipartidária no Congresso.
Com ou sem Trump, continua o colapso da confiança em instituições dos três Poderes seguradores da saúde de uma república constitucional, que Trump ataca há quase uma década. Este gênio, tão cedo, não volta para a garrafa.
A julgar pelo que li e assisti depois do choque com o resultado, a mídia política americana vai se conferir imunidade pelo seu papel na ascensão e no retorno de Trump. E deve continuar a ignorar que dois adversários se enfrentaram nas urnas: a reality TV vendida por Trump, do país descrito como uma distópica lata de lixo, e a realidade da economia mais próspera do mundo desenvolvido, com farto emprego e pouco crime.
Em 2025, o país vai experimentar a primeira Presidência comprada pela oligarquia deste milênio, os barões do Vale do Silício. Vance é um ciborgue amestrado pelo bilionário Peter Thiel. Trump deixou evidente que vai escancarar a porta do governo para o destemperado Elon Musk se comportar como um touro indomável na loja de porcelana.
Não é preciso bola de cristal para prever que Musk não vai resistir a interferir na próxima eleição presidencial brasileira. E ele já é cortejado pela família responsável pela infâmia do nosso 8 de Janeiro. Acorda, Brasil.
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