History Will Judge the War in Iraq Severely

<--

Guerra do Iraque terá julgamento severo da história

Postado por William Waack em 20 de Março de 2008 às 19:41

É compreensível a confiança do presidente George W. Bush num julgamento positivo da invasão do Iraque daqui, digamos, uns 20 anos. É um fato bastante corriqueiro o de que a contemporaneidade a um acontecimento não necessariamente permite entender a magnitude e as conseqüências do ocorrido. Querem dois bons exemplos recentes? Foi fácil antecipar o que aconteceria depois do queda do Muro de Berlim, em 1989. Mas poucos anteciparam as conseqüências, para a União Soviética, da invasão do Afeganistão, em 1979.

É possível agora antecipar que julgamento se fará da invasão do Iraque no espaço de uma geração? Na minha opinião, sim. Considero a invasão do Iraque na mesma categoria de guerras como a de 1967 (a “Guerra dos Seis Dias”) entre árabes e israelenses, que transformou profundamente o Oriente Médio e cujas conseqüências estamos vivendo até hoje, mais de 40 anos depois.

Há um paralelo interessante entre os líderes políticos e militares israelenses que lutaram a guerra de 1967 e o que acontece com os americanos hoje. Quarenta anos atrás, Israel julgava o ataque sua melhor defesa, acreditava que uma guerra “preventiva” (estou forçando um pouco o conceito, para maior clareza) garantiria a segurança do Estado e, principalmente, achava que permaneceria pouco tempo nos territórios árabes ocupados (especialmente a Cisjordânia) – para os quais não tinha o menor plano.

No caso do Iraque, estes cinco anos evidenciaram que aos americanos faltou sobretudo uma visão estratégica de longo prazo. A julgar pela ampla e bem pesquisada literatura já disponível a respeito, sequer para o curto prazo havia um planejamento adequado. Montou-se uma brilhante operação militar de alta eficiência e baixo custo (refiro-me exclusivamente aos 20 dias de campanha). O restante pode ser resumido numa só frase: um diletantismo marcado por impressionante viés ideológico.

Tem razão Bush ao sugerir que os “resultados estratégicos” da invasão do Iraque serão devidamente apreciados dentro de algum tempo, quando manchetes de jornais não forem subordinadas a interesses políticos de curto prazo? Ele tem, mas não pelos motivos que alega. Há duas transformações de longo prazo que apenas se iniciaram com a guerra, mas que provavelmente nos acompanharão pelos próximos 20 anos, ou muito mais.

A primeira é a transformação do Iraque num país frágil e instável, com pedaços sob influência (ou ameaça) direta de vizinhos mais fortes (como Turquia e Irã, por exemplo). A situação do Iraque sugere a propagação de “failed states” num arco de extraordinária importância para a energia de boa parte do mundo, e que abrange Paquistão e Afeganistão. Talvez não resulte dessa fragilidade um cataclisma – mas ela sugere um desequilíbrio a longo prazo com o qual será muito difícil de se lidar.

A segunda é a notável ascensão do Irã como potência regional. Pela primeira vez nos últimos 400 anos, os iranianos de novo exercem influência do Oeste do Afeganistão ao Leste do Iraque – além de Líbano, Faixa de Gaza e Síria, se vocês quiserem. É interessante notar também como o “respeito” geopolítico conquistado pelo Irã dos aiatolás se expande pela Ásia Central e lhes garante ótimas relações com a China e a Rússia.

Não vejo como essas transformações de caráter estratégico possam ser consideradas positivas do ponto de vista dos interesses norte-americanos. Ao contrário: a guerra do Iraque parece ter precipitado uma sucessão de acontecimentos sobre os quais os Estados Unidos têm pouco controle. E diante dos quais sua formidável máquina militar parece esticada ao ponto de não poder guerrear em mais de um lugar ao mesmo tempo.

Minha aposta é a de que em 20 anos a invasão do Iraque será julgada em termos ainda mais severos do que vem sendo analisada atualmente. Se esse guerra foi lançada para defender interesses americanos, conseguiu resultados opostos.

About this publication