Para o Afeganistão, e em força! A evolução da situação no Iraque e a campanha para as eleições presidenciais americanas em Novembro levaram nas últimas semanas John McCain e Barack Obama a avançar com uma série de importantes propostas em relação ao Afeganistão.
McCain defendeu que os EUA e a NATO devem reforçar substancialmente os seus contingentes militares e adoptar políticas mais ambiciosas no Afeganistão. Por outro lado, no seu périplo internacional que o levou do Afeganistão a Berlim, Obama argumentou que os EUA devem praticar uma política de “mais por mais” com o governo de Cabul – “mais recursos dos EUA e da NATO e mais acção por parte do governo afegão para melhorar as vidas do povo”. Obama prometeu que uma das suas primeiras acções como presidente será enviar pelo menos mais duas brigadas (7.000 militares) para o Afeganistão. No Pentágono, as chefias militares esperam que estas promessas sejam cumpridas o mais rapidamente possível.
As propostas de McCain e Obama mostram que 2009 será o ano do Afeganistão. O problema é que a promessa de um regresso militar americano em força ao país é altamente problemática para a maioria dos países europeus. De um lado está o desejo de abraçar a nova administração americana e as celebrações do 60º aniversário da NATO, a aliança político-militar mais bem sucedida da história, que elegeu o Afeganistão como a sua principal missão. Do outro, está uma profunda relutância das capitais europeias em aumentar os seus contingentes militares no país e em alterar as regras de empenhamento das suas unidades.
Os americanos podem ter entrado na fase “mais por mais” no Afeganistão, mas os europeus estão na fase “menos por menos”. O “menos por menos” europeu esconde falta de meios e, sobretudo, ausência de vontade política para combater numa longa e penosa guerra selvagem pela paz longe das suas fronteiras. Aos olhos dos eleitorados europeus, o Afeganistão foi durante os últimos anos uma operação militar multilateral, ou seja, uma operação onde não devia haver combates, mortos e feridos, em que os custos financeiros eram baixos, o inimigo não votava e a população agradecia o nosso empenho e esforço. Esta fantasia está a desfazer-se à frente dos nossos olhos. A tentação, em quase todas as capitais europeias, é arrastar os pés ou, se possível, fazer as malas e regressar a casa. Veja-se o caso de Lisboa.
Estamos numa fase muito importante do relacionamento euro-atlântico. Tendo em conta o que está em jogo e as expectativas em ambos os lados do Atlântico, é fundamental que os europeus e americanos ponham fim aos seus exagerados sonhos afegãos. Estes sonhos são irrealistas e perigosos. Acabar com eles exige o abandono do ilusionismo político dos últimos anos e o regresso a questões essenciais. Duas são particularmente importantes.
A primeira é relembrar o que levou, primeiro os EUA e depois os países europeus e a comunidade internacional a intervir no Afeganistão. Na altura, o objectivo foi eliminar a Al-Qaeda e impedir a organização de voltar a usar o país para planear, treinar e dirigir uma campanha terrorista contra os países árabes e os seus aliados europeus e americanos. Este objectivo foi parcialmente conseguido com um número extremamente baixo de forças de operações especiais norte-americanas e agentes da CIA apoiados por poder aéreo e naval e por muito dinheiro.
A segunda coisa que vale a pena relembrar agora é que este objectivo limitado foi progressivamente alargado nos anos que se seguiram. A perseguição e a destruição da Al-Qaeda deu lugar ao objectivo de reconstruir e transformar totalmente o país do ponto de vista social, económico e político. Daí à ideia de fazer do Afeganistão uma democracia foi um pequeno passo. Cabul transformou-se numa espécie de nirvana para centenas de organizações internacionais e consultores extremamente bem pagos. A NATO escolheu o Afeganistão como a sua principal missão e o Velho Continente enviou os seus soldados para ajudar a reconstruir o país. Hoje em dia, a missão destes militares é cada vez mais combater contra os talibã e outros senhores da guerra. Dito de outra forma, o contraterrorismo deu lugar a uma campanha de contra-insurreição num país que sempre olhou com enorme suspeita para os estrangeiros.
As propostas de John McCain e Barack Obama mostram que os EUA decidiram levar a cabo uma campanha deste tipo no Afeganistão e na fronteira com o Paquistão nos próximos anos. Uma campanha deste tipo só será possível com um governo e instituições competentes em Cabul e um aumento muito substancial de recursos políticos, económicos e militares no resto do país. Mesmo que a NATO fosse capaz de levar a cabo uma campanha de contra-insurreição e tivesse os recursos políticos, económicos e militares – algo que é muito duvidoso -, vale a pena parar e pensar se isto faz realmente sentido do ponto de vista estratégico. O realismo nunca fez mal a ninguém. Especialmente no Afeganistão
‘Next-war-itis’
Robert Gates, o secretário da Defesa da administração W. Bush, cunhou o termo para “next-war-itis para descrever o intenso debate americano sobre o tipo de conflitos mais prováveis para os EUA. Guerra irregular ou convencional? A lista de promoção a brigadeiro-general do Exército que George W. Bush enviou há duas semanas ao Senado mostra que a nova geração de líderes militares americanos terá finalmente oficiais com enorme experiência em guerra irregular. A lista inclui oficiais que fizeram várias comissões no Iraque e Afeganistão – Sean B. MacFarland, H.R. McMaster, Stephen J. Townsend e Jeffrey J. Snow – e oficiais do mundo das forças de operações especiais – Kenneth E. Tovo, Edward M. Reeder, Paul J. LaCamera e Austin S. Miller. Cinco mulheres fazem parte deste grupo de elite do Exército dos EUA.
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