F.B.I.: No Birthday at 100

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NOVA YORK – O Federal Bureau of Investigation (FBI) – a Polícia Federal dos Estados Unidos – acabou de completar 100 anos de existência. Antecipava-se, naquele 26 de julho, um presente de aniversário. Seria anunciada em breve a resolução de um caso de sete anos, que vinha envergonhando investigadores e manchando, ainda mais, o currículo da instituição. Uma equipe de agentes foi à casa de Bruce Irvins – um microbiólogo do Exército, em Fort Detrick, na cidade de Frederick, em Maryland – para comunicar que o cientista seria acusado formalmente pelos ataques terroristas com uso da substância química antraz. Em 2001, logo após os atentados de 11 de setembro ao World Trade Center e ao Pentágono, cartas contendo o pó venenoso foram enviadas para membros do Congresso e da mídia, deixando um rastro de 17 pessoas doentes e cinco mortos.

O brilho da comemoração do centenário do FBI, porém, seria embaçado. No dia 29, Irvins cometeu suicídio. Um tsunami de suspeitas e críticas desabou sobre o Bureau. Repórteres, cientistas, amigos do biólogo e seus parentes exigiam evidências concretas do envolvimento, e acusavam os investigadores de forjar incriminações por meio de interrogatórios truculentos. Até então, o que se tinha no caso eram provas circunstanciais. O diretor da agência policial mais famosa do mundo, Robert Mueller, alegou que só revelaria os documentos conclusivos depois de comunicar os achados aos parentes das vítimas. Isto seria feito apenas no dia 6 de agosto. E o que se viu foi um apanhado de incriminações pertinentes, mas contestáveis.

Aponta-se que o cientista fez serões em várias noites antes dos ataques, fugindo à rotina normal, e sem apresentar explicações convincentes para isso. Enviou e-mails a amigos, alertando para perigos de ataques químicos contra americanos e judeus, em tom semelhante àqueles contidos nas cartas contaminadas. Deu a investigadores exemplares defeituosos de material com o qual trabalhava. Escrevia com freqüência à mídia e se deslocava longas distâncias para encobrir a identificação do remetente. Marcas nos envelopes que continham o antraz revelam que foram estes comprados no posto de correio de Frederick. Depois de uma busca em sua casa, o cientista se livrou, sob vigia, de um livro importante de códigos de DNA. E, o mais grave: os exemplares da substância nos ataques vieram do lote RMR1029, que estava sob controle exclusivo de Ivins.

– Nada disso garante vitória nos tribunais – avalia o professor de direito da Universidade da Califórnia Marlon Ascott, especialista em direito penal. – Nos EUA, uma pessoa só é condenada quando são apresentadas contra ela provas que não dão espaço para dúvidas razoáveis. E aquilo que foi apresentado pelo FBI deixa espaço para estas dúvidas. Um bom advogado tribunalista bateria estas acusações.

O jurista lembra também que o mesmo FBI é acusado de ter empregado coerção para obter informações da família e de amigos do acusado.

– O procedimento dos agentes foi tão brutal que levou o cientista ao suicídio. Ele estava fragilizado, tinha problemas mentais, era alcoólatra, e não agüentou a pressão. Todas estas técnicas empregadas durante as investigações viriam à tona em corte, o que poderia tornar inadmissível algumas provas. E, quando se diz que o caso foi resolvido, esquece-se que Ivins não foi condenado por coisa alguma. O caso não acabou – sentencia Ascott.

As mesmas táticas de investigação foram empregadas em mais de 20 cientistas americanos neste caso. Um deles, Steven Hatfill, foi apontado pelo Departamento de Justiça como “pessoa de interesse”. A notoriedade exerceu tamanha pressão no microbiologista, também de Frederick, que ele resolveu contra-atacar. Depois de ficar claro que o FBI não tinha fortes evidências contra sua pessoa, Hatfill processou, em agosto de 2003, o então secretário de Justiça, John Ashcroft. Em 27 de junho do ano passado, um tribunal condenou o Departamento de Justiça a pagar uma indenização de US$ 5,8 milhões a Hatfill.

Era a prova concreta de que o FBI, mais uma vez havia pisado na bola. Seria acrescentado mais um caso de incompetência na centenária história de uma agência policial que tem ficha pregressa gorda em bobagens.

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