Não é preciso concordar com o que diz Sarah Palin, a candidata republicana a vice-presidente dos Estados Unidos, para admitir que ela é a grande sensação da convenção republicana. No momento em que este texto foi enviado para publicação, o candidato a presidente, John McCain, ainda não havia falado e arrisco-me a dizer que seu pronunciamento terá menos repercussão que as palavras pronunciadas pela companheira de chapa na véspera.
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A pergunta que não cala desde a última sexta-feira é saber se Sarah acrescenta votos ou se atrapalha a campanha republicana, que parece bem menos organizada e agressiva do que a dos democratas, pelo menos até agora. Minha opinião é a de que ela acrescenta, e bastante, simplesmente pelo fato de ter embaralhado as cartas de forma, creio, irrecuperável.
A mensagem de Obama é a da mudança dos hábitos políticos num país cansado de Washington (aqui entendida a velha política)? Palin acusa Obama de fazer parte do clube que ele critica. É a mensagem dos democratas a proximidade com o sofrimento das classes médias americanas, as mais atingidas pela atual crise? Palin diz que ela vive ainda como uma mãe de família de classe média, enquanto Obama .
Palin soltou uma grande piada em seu discurso: a da diferença entre uma hockey mom (as mães que levam os filhos para a aula de esporte) e um pitbull. É o batom, disse ela. A combinação aqui é perigosíssima, e boa parte da imprensa liberal (no sentido americano) e dos ativistas democratas já percebeu isso.
Ataca-se uma mulher como Palin, e o resultado é torná-la uma vítima de machismo, sexismo, preconceito, etc. Dá-se as costas a ela, e você sai com uma bela mordida no traseiro. O de Obama deve estar ardendo: Palin o atacou como nem mesmo Hillary Clinton tivera a audácia de fazê-lo. Ela não poupou sequer a mulher de Obama, Michelle.
Quando falo que Palin embaralhou as cartas, refiro-me também ao fato de que ela mudou para as próximas nove semanas os argumentos mais esgrimidos até agora entre os contendores a saber: a) quem é mais experiente para conduzir o país; b) quem traz mudanças nos hábitos políticos; c) quem sabe melhor o que acontece com o americano médio; d) quem conserta a economia.
A chapa McCain-Palin reinventou-se como corajosa e competente não por abordar temas específicos, mas, ao contrário, por arriscar falar sem se importar com as consequencias políticas. Palin atacou boa parte da chamada grande imprensa americana acusando-a de preconceito em relação a alguém, como ela, que não era conhecida nos coquetéis frequentados por políticos e jornalistas bem informados em Washington.
Mas ironia, sarcasmo e bom humor são componentes de discursos bem organizados para um público escolhido quando o jogo é em casa (o caso da convenção republicana). É difícil calcular o quanto Palin aguentará no mesmo ritmo as próximas nove semanas, especialmente quando ela não for mais novidade alguma. A eleição não está perdida para os democratas, mas Obama-Biden estão longe ainda de ter garantido a vitória.
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