A eleição de Barack Obama eletrizou o mundo, mas ainda não é possível saber exatamente a razão. Há uma espécie de prazer transcedental em saber que Bush partiu, e em vê-lo ser substituído por um sujeito que não é de seu partido, que é um novato na política, negro, liberal e jovem, uma antítese completa desses anos sombrios, repletos de um grave conservadorismo messiânico excludente. O terrorismo, mantra dessa administração desastrosa, que anulou todas as demais considerações, deixa de ter o sentido original de urgência e se dilui numa agenda ampla de preocupações, liderada sobretudo pelo aquecimento global e pela irresponsabilidade do mercado financeiro.
No entanto, por esse aspecto, Obama ainda não é história. Ele é apenas o fim, digamos, dialético de uma idéia de poder que desconsiderou a razão como vetor, substituindo-a pelo que Bush chamou de clareza moral, termo cuja ambiguidade estudada é ampla o bastante para justificar mentiras e engodos de toda sorte.
Por essa razão, sobre os ombros de Obama repousam expectativas que vão muito além dos fatos. Dele se espera que seja resgatado o espírito americano, o leitmotiv de milhões de pessoas que desde o século 18 ajudaram a transformar os EUA de um pântano num país admirável, que já foi modelo para o mundo. E isso num contexto de crise profunda, não só sob o aspecto econômico, mas de sua própria identidade.
Obama será história se, em seu governo, conseguir devolver os americanos a seus sonhos. Enquanto isso não acontecer, ele será apenas uma boa notícia o que não é pouca coisa nessa triste América legada por Bush.
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