Setbacks, Yes, But No Recession in Brazil

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Klaus Kleber

Coordenador de Opinião da Gazeta Mercantil

05/12 – 00:00

Tropeços, sim, mas sem importar uma recessão

5 de Dezembro de 2008 – Como as subsidiárias das multinacionais, algumas delas diante de intricados problemas em seus países de origem, vão se comportar nos mercados emergentes, particularmente no Brasil? Já li, vi e ouvi previsões aterradoras sobre o que aconteceria aqui se as matrizes dessas companhias não conseguirem uma saída lá fora para suas dificuldades de solvência. As subsidiárias seriam levadas a simplesmente fechar seus portões, eliminando milhares de empregos diretos em suas atividades e entre seus fornecedores e distribuidores locais.

O caso da General Motors (GM) é exemplar. Segundo o noticiário mais recente, as três grandes de Detroit (GM, Ford e Chrysler) estão reivindicando agora junto ao governo americano um pacote de US$ 34 bilhões para adaptar-se às novas circunstâncias dos mercados americano e internacional. Desse total, US$ 12 bilhões iriam para a GM, que também reivindica uma linha de crédito adicional de US$ 6 bilhões.

Só com a posse do presidente eleito Barack Obama e a renovação do Congresso, dando uma ampla maioria aos democratas, a ajuda do governo pode desencalhar, e há quem tenha como certo que desencalhe. Desde que obedecidas algumas condicionalidades, como a produção de carros mais compactos e maior volume de carros híbridos, capazes de operar com motores elétricos e a gasolina, combinados com os nossos conhecidos carros flex, além da aceitação de limites para remuneração de altos executivos.

Serão tempos duros para a GM nos EUA e em países europeus. Mas são apressadas as cassandras que vaticinam que as operações da companhia no Brasil e na América Latina serão drasticamente reduzidas. Ainda nesta semana, a Gazeta Mercantil publicou uma entrevista concedida à Dow Jones Newswires por Maureen Kempston-Darkes, presidente da divisão da GM para a América Latina, África e Oriente Médio. O que ela disse foi o contrário: a companhia está há décadas na América Latina (no Brasil desde 1925) e está aqui para ficar e vai cumprir seus planos de investimento.

Kempston-Darkes não tocou nesse ponto, mas é sabido que a subsidiária enviou lucros para a matriz e tudo fez para ajudá-la. Mas, pelo que se deduz de suas declarações, isso não afetou o seu cacife para investimentos na América Latina, previstos em US$ 1,5 bilhão. Em Joinville (SC), por exemplo, serão investidos US$ 200 milhões em uma fábrica de componentes, com produção prevista para o quarto trimestre de 2009.

As declarações da executiva mostram como ela vem defendendo bravamente a sua região. A GM vai mal nos EUA, mas não em outros países, como o Brasil. A matriz pode não ter se modernizado a ponto de acompanhar a evolução da demanda no mercado americano, pode ter de arcar com grandes ônus, decorrentes de seu fundo de pensão, mas a GM aqui continua bem entre as quatro grandes (Fiat, Volkswagen, GM e Ford). No Brasil, segundo os últimos números, a GM vendeu 444 mil automóveis de janeiro a novembro, 10,4% a mais que em idênticos meses do ano passado. No segmento de comerciais leves (76 mil unidades vendidas), teve um crescimento espetacular de 60%, sempre no mesmo período. Chevrolet aqui continua uma marca de respeito. E, como outras montadoras instaladas no Brasil, os carros flex já dominam amplamente produção da GM. As vendas caíram em novembro, como era esperado, mas há uma perspectiva de recuperação em 2009, com o desentupimento do crédito. As montadoras, por sinal, ainda prevêem produzir 3,2 milhões de veículos no ano que vem e, segundo o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, citado recentemente pela revista The Economist, a indústria automobilística brasileira pode se tornar a sexta do mundo, produzindo anualmente mais de cinco milhões de carros. Quer dizer, as subsidiárias das múltis nos países emergentes podem ser parte da solução para os problemas que atormentam as matrizes.

Seria bom nessa altura que executivos de outras múltis dessem entrevistas sobre os planos de suas empresas no Brasil e em outros países emergentes. Talvez isso atenuasse o pessimismo daqueles que já estão mentalmente importando a recessão.

(Klaus Kleber – Coordenador de Opinião. E-mail: kkleber@gazetamercantil.com.br)

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