Obama and the African Genocides

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Pobre Barack Obama. Ele assume a presidência do EUA em pouco mais de um mês, com altíssimas expectativas de mudança no Iraque, Afeganistão, conflito Israel-Palestina, Irã, sem falar na economia e no aquecimento global. Haverá algum espaço em sua agenda para a África?

É certo que sim, tendo em vista sua história familiar e a equipe que formou. Mas também é certo que as mudanças em sua política africana serão bem menos dramáticas do que nos outros vespeiros em que precisará mexer.

Já está certo, por exemplo, que ele fechará rapidamente a prisão na base de Guantánamo, em Cuba, e que começará imediatamente a retirar tropas do Iraque a reforçá-las no Afeganistão. Na economia, já anunciou pacotes de estímulos com os quais o desmoralizado George Bush nem pode sonhar. Na questão ambiental, então, depois de oito anos de virtual abandono, a coisa só pode melhorar.

Na África é mais complicado pelo seguinte: primeiro, porque lá Bush, com seus níveis recordes de assistência para o desenvolvimento, não foi tão mal assim (é serio). Segundo, e mais importante, porque não é tão claro o que pode ser feito para mudar radicalmente o curso.

A revista britânica “The Economist” dessa semana traz um artigo interessante sobre os desafios de Obama para lidar com um dos temas mais associados à África (infelizmente), o genocídio. Está no link abaixo (em inglês).

http://www.economist.com/world/unitedstates/displaystory.cfm?story_id=12773216

Obama comprometeu-se mais de uma vez durante sua campanha a levar a sério o slogan “never again” (nunca mais), dos ativistas que lutam contra a repetição de matanças indiscriminadas contra grupos étnicos, que têm nos massacres de Ruanda em 1994 seu melhor exemplo.

Sua equipe não poderia estar mais qualificada. A escolhida para secretária de Estado, Hillary Clinton, tem uma visão muito intensa a respeito do dever moral de evitar genocídios. A futura embaixadora na ONU, Susan Rice, alardeia aos quatro ventos que Ruanda-94 (quando ela era funcionária do Departamento de Estado) é um trauma pessoal em sua carreira. Uma influente assessora, Samantha Power (a mesma que escreveu um excelente livro sobre o brasileiro Sergio Vieira de Mello, morto no Iraque), tem um best-seller sobre o assunto (“A Problem from Hell”).

No papel, portanto, as sociedades africanas podem estar descansadas. Nunca na história dos EUA o primeiro escalão do governo lhes foi tão favorável.

Na prática, a teoria é outra, no entanto. Evitar um genocídio é das coisas mais difíceis de fazer. Na verdade, a dificuldade começa em identificá-lo. Como saber com certeza o momento em que assassinatos localizados adquirem a unidade capaz de caracterizá-los como parte de uma mesma máquina de matar? No momento em que se percebe que há um genocídio acontecendo, é provável que grande parte dele já tenha acontecido. Mesmo o de Ruanda, que teve uma velocidade espantosa (1 milhão de mortos em três meses, quatro vezes mais rápido que o Holocausto nazista), só foi percebido como uma catástrofe quando era tarde mais.

A saída para minimizar a dificuldade é um constante sistema de inteligência que permita identificar ações preparatórias suspeitas, o que foi um notório fracasso em Ruanda. Por meses antes do genocídio caixas e mais caixas de armas brancas e de fogo, a maioria provenientes da França, desembarcaram no país sem que ninguém se preocupasse. Três meses antes do início da matança, um informante do regime chegou a relatar os preparativos para as tropas da ONU no país, mas o aviso foi ignorado na cadeia de comando burocrática da instituição.

Identificado o problema, entram em consideração outras questões. Quem tem direito a proteção de genocídios? A pergunta pode parecer cruel e absurda, mas não sejamos ingênuos de pensar que populações submetidas a tal ameaça por um governo aliado do Ocidente terão o mesmo tratamento do que uma na mira de um regime do “eixo do mal”. E o caso da cólera no Zimbábue, pode ou não ser considerado um genocídio?

Discussões acadêmicas à parte, temos ainda a prova dos nove: por mais que Obama bata no peito que “Nunca mais”, ainda estou pagando para ver una coluna de marines descendo nas selvas do leste do Congo. Isso seria algo realmente novo na diplomacia norte-americana.

Tão novo quanto improvável.

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