No dia 11 de setembro de 2001, um bando de dementes fundamentalistas derrubou as torres gêmeas de Nova York, centro econômico e financeiro mundial, matando covardemente milhares de pessoas. A poucas centenas de metros dali, Wall Street tremeu duas vezes. A primeira vez, literalmente, a segunda, metaforicamente. Com efeito, houve um princípio de pânico financeiro que obrigou o Federal Reserve (Fed) a injetar US$ 300 bilhões no sistema bancário em apenas três dias para prover a liquidez necessária. Quando a bolsa reabriu, em 17 de setembro, o Índice Dow Jones desceu 7,1%, durante a sessão de abertura, e 14,3% ao longo da semana. O dólar caiu e os preços o ouro e do petróleo subiram rapidamente.
Esses efeitos, contudo, foram de curto prazo. Em fins de outubro a situação já tinha voltado ao normal. As medidas fiscais e monetárias funcionaram e no quarto trimestre de 2001 a economia norte-americana apresentou um aumento de 2,7%, iniciando um ciclo de crescimento que só se interrompeu de fato neste ano. Do ponto de vista econômico e financeiro, Osama bin Laden tinha fracassado.
Mas havia bombas muito mais poderosas que as de Bin Laden que vinham sendo armadas contra a economia norte-americana. Dois anos antes, em 1999, a maioria republicana no Congresso dos EUA havia praticamente imposto ao presidente Bill Clinton a revogação da Lei Glass-Steagall. Implementada em 1933, com o intuito de separar bancos comerciais de bancos de investimentos e regular o sistema financeiro no pós-crash de 1929, essa lei vinha sendo questionada desde meados da década de 80 pelos interesses de financistas e investidores ávidos em participar mais intensamente da crescente financeirização da economia mundial. A revogação dessa lei e várias outras medidas de desregulamentação financeira facilitaram aos bancos dos EUA alavancar extraordinariamente o mercado de crédito. Essa alavancagem, associada ao crescimento especulativo do mercado imobiliário e dos preços dos imóveis, ensejou forte emissão de títulos lastreados em hipotecas. Como conseqüência, houve uma explosão da expansão de ativos bancários lastreados em títulos financeiros, por sua vez lastreados em hipotecas. Tal florescente e sofisticado mercado de derivativos cresceu muito além do necessário para sustentar empréstimos de hipotecas, constituindo-se em fonte especulativa de ganhos de curto prazo. Durante algum tempo essa autêntica e gigantesca pirâmide financeira invertida, construída sob as barbas do Fed, permitiu aos bancos dos EUA, bem como a outros bancos do mundo inteiro, operar com garantias descoladas do seu capital, burlando as exigências das Convenções de Basiléia.
Ao final do processo, esse descomunal mercado de derivativos já concentrava 75% da liquidez mundial e equivalia a oito PIBs mundiais. Bin Laden, gênio financeiro fosse, não poderia ter concebido plano mais pérfido e insidioso para pôr os EUA e o mundo de joelhos. Quando os preços dos imóveis começaram a cair e as taxas de juros, a aumentar, ao final de 2006, o frágil castelo de cartas dessa nova arquitetura financeira principiou a desmoronar. Em poucos meses, cerca de 10 milhões imóveis passaram a valer menos do que suas hipotecas e a inadimplência disparou. A bomba financeira explodiu com toda a sua fúria destrutiva, em 2008. O resto já é história. Triste história que ameaça repetir a crise de 1929. Os EUA e o mundo mergulham numa recessão cujas intensidade e duração ninguém ainda consegue prever.
Onde o fundamentalismo demente da Al-Qaeda fracassou, a exuberância irracional da “Wall Qaeda” teve êxito retumbante. É preciso considerar, todavia, que essa exuberância irracional e a desregulamentação do mercado financeiro foram fortemente estimuladas por políticas equivocadas do governo dos EUA, pela omissão irresponsável do Fed e, acima de tudo, por um padrão de desenvolvimento da economia norte-americana que é absolutamente insustentável. Os EUA, que “desterritorializaram” boa parte da sua produção industrial, absorvem 60% dos fluxos mundiais de capital e 80% da poupança planetária, financiando, dessa forma, os seus gigantescos déficits gêmeos e um consumo doméstico incompatível com seu PIB. De fato, o consumidor norte-americano deve 140% da sua renda anual disponível. Esse padrão de acumulação baseado num forte endividamento e na importação crescente de capitais financeiros, particularmente da China, tem limites estruturais que a crise tornou amargamente óbvios.
Assim, o presidente eleito Barack Obama terá pela frente a dupla e hercúlea tarefa de retirar os EUA da recessão e, ao mesmo tempo, implantar os fundamentos de um novo e mais racional padrão de financiamento da economia norte-americana. É provável que esse processo implique mudanças geoeconômicas significativas e que a economia dos EUA se torne um pouco menor, em relação a algumas economias emergentes, como a chinesa, a indiana e a brasileira. Mas é algo que terá de ser feito, sob pena de as crises se repetirem num ritmo célere.
John K. Galbraith, canadense e civilizado, afirmou, na sua obra Uma Breve História da Euforia Financeira, que a euforia especulativa que antecede a crise ocorre, entre outros fatores, porque a memória financeira é notavelmente curta e há o “direito adquirido ao erro” por parte dos investidores, que ganham muito nas fases do pico especulativo. Controlar esse bárbaro capitalismo bipolar não é fácil, especialmente nos EUA de hoje, que têm ojeriza à regulação estatal e vivem de financiamentos especulativos. Obama, contudo, tem a seu favor um bom capital político e a grande memória de Franklin Delano Roosevelt.
É um começo promissor.
this is no recesson but a decline of american wealth that has been ocurring for over 4 decades and this decline of wealth is affecting the world.
few will understand my words even economists.
ok especially economists.