Obama, Osama and the Fear of Muslims

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Perguntem a um israelita o que pensa dos vizinhos do lado, Síria, Irão, Egipto, Líbano, e provavelmente dirá: somos o último entreposto antes da invasão dos árabes. Somos o tampão. Na Holanda, o partido de extrema-direita PVV, Partido da Liberdade do Povo, de Geert Wilders, foi o segundo maior partido nas europeias. Wilders, personagem de cabelo platinado, rodeado por seguranças devido às ameaças de morte, defende a expulsão dos muçulmanos, a proibição do Corão e o fim da imigração. Parte da ideologia do PVV é emprestada pelo partido de Pym Fortuyn, o extremista gay, anti-islâmico, que foi assassinado em 2002. Wilders é ferozmente pró-israelita e defensor dos gays. Para ele, o mundo do Islão é um mundo que tem de ser suprimido do Ocidente e pelo Ocidente. Um em cada sete holandeses concorda. No “Financial Times”, um arabista da Universidade de Tilburg, Jan Jaap de Ruiter, era citado: se viver por baixo de uma família marroquina com 10 crianças barulhentas que não o respeitam pode ter a certeza de que fica com uma visão muito diferente da sociedade multicultural. De Ruiter diz que a Europa política não aprendeu a lidar com as tensões étnicas nas grandes cidades. Em Portugal, os acontecimentos recentes parecem dar-lhe razão. Em França, os subúrbios são barris de pólvora que explodem ciclicamente.

No Líbano, apesar da derrota eleitoral, uma hegemonia do Hezbollah persiste, com o patrocínio da Síria e Irão. Na Síria, como no Egipto, temos corruptas ditaduras dinásticas que se perpetuam no poder (o filho de Mubarak na linha de sucessão), esmagam os movimentos radicais ou compram-nos, neutralizando eleições livres. Nos Territórios Ocupados, a divisão entre palestinianos não está resolvida, Fatah e Hamas são rivais que se odeiam. Em Israel, a extrema-direita está no governo e Lieberman quer expulsar os árabes israelitas e consentir nos dois estados, sabendo-se que as anexações em Jerusalém continuam e a construção de colonatos também. A questão palestiniana é central.

No Irão, Ahmadinejad continua a negar o Holocausto e, apesar de pela primeira vez se desenhar uma oposição moderada e democrática ao seu populismo, pode ganhar as eleições com o voto rural. No Paquistão trava-se uma guerra civil entre os militares e os talibãs, de contornos indefinidos, que levou à criação de um cordão de segurança em redor de Islamabad. É improvável que a popularidade do governo aguentasse uma vitória militar que dizimasse, com ajuda americana, as tribos do Waziristão e da zona ‘sem lei’ da Província do Noroeste. Num país com tecnologia nuclear (que exportou, entre outros países, para a Coreia do Norte) estas movimentações são perigosíssimas, muito mais do que o programa nuclear iraniano. O Paquistão é a potência nuclear mais instável. No Iraque, ninguém consegue prever o que vai acontecer ou desenhar uma política coerente que impeça as chacinas entre sunitas e xiitas quando as tropas americanas retirarem do terreno. No Afeganistão, a economia assenta na corrupção, no ópio e na ajuda militar. Cabul é um protectorado. Os talibãs afegãos são nacionalistas que querem expulsar os estrangeiros da sua terra e não descansarão enquanto não o fizerem, como sempre fizeram.

Osama continua a andar por aí, apesar de muitos serviços secretos o considerarem morto. A última mensagem desmente-os. E Al-Zawahiri continua clandestino e letal, não tanto por poder replicar os atentados espectaculares como por ter tornado a Al-Qaeda um símbolo e uma ideologia. A Al-Qaeda é uma marca, mais do que uma organização ou uma base de treino. Com subsidiárias da Argélia a Marrocos, de Caxemira à Somália e das Filipinas à Malásia e Indonésia. Mumbai foi um exemplo. Crianças chamadas Osama são comuns. Osama é um herói para muitos árabes. Os sauditas estão estagnados nos vícios do clã Saud, e nos países do Golfo Pérsico, o capitalismo árabe assenta na mão-de-obra escrava, no preço do petróleo e na saúde dos mercados. O Qatar é o mais moderado e, tal como a Jordânia, não é uma democracia. Uma crise económica por cima dos erros crassos da administração Bush não nos tranquiliza. Obama, no discurso do Cairo, usou palavras de bom senso e estendeu uma mão negocial, sem deixar de dizer as verdades. Aquele mundo não é democrático. Se fosse, prosperaria. Prosperando, os direitos humanos seriam respeitados. Sem uma histórica tentativa americana, que desarme os radicais (incluindo os ocidentais, como se vê pelas vitórias da extrema-direita europeia) e revigore os moderados, e sem uma política europeia forte e menos egocêntrica, o mundo pode resvalar para a guerra de civilizações. Quem deseja que Obama falhe é um idiota. O falhanço dele será o nosso. E a vitória de Osama, vivo ou morto.

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