A Man Crushed

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NOVA YORK – Nunca havia estado por tanto tempo e tão perto de Barack Obama quanto na semana passada, na entrevista de encerramento da reunião do G20 com o norte-americano em Pittsburgh (Pensilvânia).

Obama é um craque. Mas é também um homem sob visível e inimaginável pressão.

Suas mandíbulas e dentes se espremem a ponto de notarmos as contrações internas em sua pele escura do lado de fora. É visível também o esforço de concentração, com o olhar no vazio, que antecede cada uma de suas palavras.

Obama lida com problemas que nenhum de nós pode experimentar a dimensão.

Enfrenta a pior crise econômica em seu país desde os anos 1930 e um desemprego que se aproxima rapidamente de 10%. Por isso, seus índices iniciais de aprovação caíram mais rapidamente (para cerca de 50%) do que os de qualquer outro presidente na história recente.

Obama também luta internamente para fazer aprovar a universalização da cobertura de saúde a todos os que vivem nos EUA, único país desenvolvido que não proporciona esse benefício básico a todos.

No front externo, o presidente vê centenas de americanos sendo mortos sob seu comando em duas guerras. Nenhuma provocada por ele, mas por George W. Bush, de resto também responsável pelos graves problemas econômicos em seu país.

Além disso, dificuldades geopolítcas cada vez maiores (também instigadas pelo unilateralismo de Bush) se descortinam rapidamente, do Iraque e Afeganistão ao Paquistão. A mais recente foi a descoberta de que o Irã constrói secretamente, escondida dentro de uma montanha, uma usina nuclear com fins supostamente militares.

Obama teve o cuidado de fazer a revelação sobre a usina ao lado dos líderes de França e Reino Unido. Não quis repetir o erro de Bush ao anunciar sozinho que o Iraque tinha armas de destruição em massa (que jamais foram encontradas).

O presidente dos EUA vem dando várias mostras de ser totalmente diferente de Bush e mais aberto ao mundo.

Reprodução

Fotos de cartazes e pessoas se manifestando contra o presidente Obama reunidos pela revista “New York” chamam o presidente de nazista, satânico, mentiroso, muçulmano e socialista

Apoiou a consolidação do G20 como fórum global de discussões econômicas em detrimento das grandes potências do G7 e a reforma do FMI; enterrou a ideia de instalar em solo europeu o programa antimísseis de Bush (numa concessão aos russos); e, mesmo em relação a Cuba e Venezuela, vem adotando uma postura de mais conciliação e menos confronto.

A grande pena é que talvez os EUA ainda não estejam preparados para Obama.

O presidente vem sendo alvo de uma campanha sistemática para desfigurar sua imagem e políticas. Com a ajuda da mídia conservadora norte-americana e do conservadorismo inerente a seu país, essas distorções vêm ganhando corpo, voz e musculatura nessa nossa era de sensacionalismo midiático.

A repercussão não é nada desprezível.

No caldo da aguda deterioração econômica nos EUA, onde os sinais de recuperação são ainda muito incompletos, as campanhas negativas, bem feitas e coordenadas, já pintaram Obama como nazista, socialista e até satânico.

Obama está há menos de um ano no poder. Há tempo ainda pela frente, assim como haverá eleições parlamentares em 2010. O maior revés seria o Partido Democrata de Obama perder a forte liderança que tem hoje na Câmara e algumas cadeiras no Senado.

Se a economia não decolar logo, Obama corre um sério risco de passar de grande inovação a uma falsa caricatura.

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