BRASÍLIA – O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, classificou nesta terça-feira como “frustração” o resultado das recentes políticas do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em relação à América Latina, às negociações sobre a liberação econômica da Rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC) e às propostas de combate às bruscas mudanças climáticas.
De acordo com o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já existem “sintomas e posicionamentos” que apontam para um “sabor de decepção” do Brasil em relação às decisões tomadas pela Casa Branca.
“Nós entendemos que o presidente Obama está enfrentando uma situação complexa com uma agenda interna difícil, mas a grande verdade é a seguinte: está provocando uma certa frustração. Não diria que é uma inflexão. O presidente Lula continua com expectativas de que possamos ter um bom relacionamento com os Estados Unidos, mas até agora há um certo sabor de decepção, que esperamos que seja revertido. Nas conversas com altos funcionários americanos é esse o sentimento que temos expressado”, disse Garcia após participar de almoço no Palácio do Itamaraty.
“Esperamos que haja uma percepção da parte do governo americano de que não é o fato de que na América Latina não explodam bombas, de não termos atentados nem grandes crises que deva significar que eles fiquem ausentes e (não) tenham uma política mais consistente em direção (aos latinos)”, criticou o assessor de Lula.
Para Garcia, Obama não tem demonstrado empenho em fazer com que os Estados Unidos colaborem nas negociações de liberalização comercial em termos mundiais e ainda tem apoiado a realização das eleições presidenciais em Honduras, embora o país tenha passado os últimos meses sob intenso estado de tensão e violência. O presidente deposto do país caribenho, Manuel Zelaya, está abrigado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde 21 de setembro.
“Vemos com preocupação alguns sintomas e alguns posicionamentos dos Estados Unidos. A Rodada de Doha (de liberalização do comércio) está paralisada, e o próprio presidente Obama, na carta que enviou neste fim de semana ao presidente Lula, não deu muita possibilidade de que isso se desenvolva. Em relação a Honduras já (há) esse nítido desapoio não só em relação ao Brasil, mas em relação à maioria dos países latino-americanos (em prol das eleições presidenciais). No que diz respeito à convenção do clima, os Estados Unidos não estão entregando praticamente nada. Somente um item que o Brasil está propondo corresponde a tudo que os Estados Unidos têm proposto até agora”, afirmou.
“Se houver um desencontro e um desentendimento muito grande, os Estados Unidos começarão a olhar para a América Latina e vão chegar à conclusão de que estão olhando tarde demais. Esperamos que isso não ocorra porque o Brasil, que manteve uma relação excelente com os Estados Unidos durante o governo Bush, tem muito mais razões para manter uma relação melhor ainda durante o governo Obama”, disse o assessor.
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