Afghanistan: The Taliban Deal the Cards

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impressionante não só as imagens como a própria magnitude do ataque dos talibãs ao coração do governo afegão, em Cabul. Ao ver as cenas, e a própria situação em si, não pude deixar de traçar um paralelo com a ofensiva do TET, em 1968, quando o Viet Minh infiltrou centenas de homens na capital do Vietnã do Sul, Saigon, para um ataque surpresa. Embora os livros falem que os objetivos militares naquela época não foram alcançados pelos vietcongs, ou seja, nenhuma posição importante foi ocupada, o simples fato de que inimigos conseguiram chegar em carros comuns e invadir a embaixada dos Estados Unidos já é uma importante vitória em si mesma. Os atacantes foram todos mortos ou capturados, é verdade, mas para as páginas da história o que conta não é isso, sobretudo depois de tantos anos: é o fato de que a operação expôs um grau de vulnerabilidade do regime sul-vietnamita que até então o Ocidente não era capaz de pressupor. Os aliados dos EUA na ocasião imaginavam a presença militar maciça como uma espécie de muralha. A Ofensiva do TET revelou que a muralha, vista de perto era um monte de pedras cheias de buracos e passagens.

O que aconteceu em Cabul reforça a sensação de que a guerra no Afeganistão, a verdadeira guerra ao terror islâmico, não caminha como os estrategistas planejavam. O fato de os talibãs terem conseguido desfechar um ataque direto e pesado, na capital, contra o presidente Hamid Karzai deixa claro que o pesadelo do Sudeste Asiático, em termos históricos pode ter um paralelo no século 21. Além de o Afeganistão ser um país desde tempos imemoriais inconquistável, tal ousadia demarca uma divisão indigesta no front; que deixa de ser as províncias hostis do Baluquistão, na região tribal fronteiriça com o Paquistão, para se disseminar dentro da própria capital. Se antes das operações de combate mais efetivas a milícia fundamentalista dominava o interior do país, deixando a capital sob controle da OTAN, agora temos a certeza de que a OTAN está cercada de inimigos invisíveis por todos os lados. O tamanho da infiltração em Cabul ainda não pode ser medido, mas é evidente que é maior do que a capacidade das tropas ocidentais de utilizarem seu aparato tecnológico para reduzi-la. O soldado da coalizão já olha para o policial afegão ao seu lado sem saber se o sujeito é aliado ou inimigo. Como ocorria com os sul-vietnamitas.

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