Standing Before Hillary

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No giro da secretária de Estado Hillary Clinton pela América Latina, iniciado segunda-feira, hoje é a vez do Brasil. Não é uma visita como qualquer outra. Na última década, cresceu a projeção do país, que integra o grupo dos emergentes ao lado de China e Índia, e isto reforça a posição do Brasil em discussões sobre temas da agenda internacional com os EUA.

Um dos objetivos legítimos da diplomacia brasileira é obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, que ainda reflete uma realidade do fim da Segunda Guerra Mundial. Mas o fato de Brasília muitas vezes subordinar sua política externa àquele objetivo produz situações descabidas, como, por exemplo, a abstenção no Conselho de Segurança em votações para condenar o governo do Sudão, notoriamente genocida. A preocupação é não perder votos de países árabes numa futura reforma do Conselho. Não vale o preço.

No momento, o Brasil diverge dos EUA num assunto crucial: o programa nuclear do Irã. O governo Obama, com o apoio de aliados e da Rússia, defende uma nova rodada de sanções diante da rápida evolução iraniana no domínio da tecnologia nuclear. O governo Lula, que iniciou uma firme aproximação com Teerã, numa busca obsessiva por afirmação internacional, passou a defender a posição da China, contra sanções e a favor de se continuar negociando, por mais que os iranianos desafiem o Ocidente com maior teor de enriquecimento de urânio, o que os deixa mais perto da arma nuclear.O presidente Lula tem dito que é mais proveitoso conversar com o regime iraniano do que adotar sanções, que o colocariam contra a parede. E setores de seu governo questionam a legitimidade de detentores de armas atômicas – como EUA, Grã-Bretanha, França e Rússia – defenderem o desarme nuclear de outras nações. Mas o regime iraniano, principalmente depois da reeleição fraudada do presidente Ahmadinejad, aproxima-se de uma ditadura militar teocrática. Não é minimamente confiável. Já o governo Obama está empenhado na revisão da política nuclear americana, de modo a reduzir o arsenal em milhares de ogivas. Segundo o “New York Times”, está em estudo um sistema para dissuadir ataques sem recorrer a armas nucleares. Risível por si só, cai por terra o argumento lulista.

Hillary vai aproveitar a visita para pedir ao Brasil que apoie as sanções ao Irã. O governo Lula deve se livrar das amarras ideológicas derivadas de um antiamericanismo atávico, ter bom senso e ajudar a conter desvarios de Ahmadinejad. Tal postura aumentará a respeitabilidade do país.

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