Casa Branca x Wall Street, a guerra do século
Esqueça o Iraque, esqueça o Afeganistão, esqueça o Irã. A guerra mais relevante que o presidente Barack Obama está travando é contra Wall Street, se se puder tratar essa ruazinha de Nova York como sinônimo de mercados financeiros.
Obama usou seu programa semanal de rádio e TV, no sábado, para um, digamos, comunicado de guerra. Primeiro, culpou as falhas da indústria financeira por uma crise que ele acha que poderia ter sido evitada. Não o foi –explicou– porque “interesses especiais promoveram uma campanha sem descanso para frustrar até mesmo regras de sentido comum que evitassem abusos e protegessem consumidores”.
Parece alusão ao mais recente escândalo envolvendo a Goldman Sachs, acusada de provocar prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão a consumidores de um tipo de investimento opaco (de nome Abacus 2007-ACI).
Obama não está sozinho na guerra: o primeiro-ministro Gordon Brown acaba de vestir uniforme de combate, ao pedir que também as autoridades de vigilância financeira do Reino Unido investiguem a Goldman Sachs, a quem Brown acusa de “bancarrota moral”.
Mas a firma não é a única, claro, na alça de mira. “Os bancos ainda são um risco para a economia”, afirma Brown.
Obama concorda, tanto que diz que, sem a aprovação do pacote que enviou ao Congresso, destinado a mudar “o que nos levou à crise, nós nos condenaremos a repeti-la”.
O presidente fez questão de pôr números no custo da crise: “trilhões de dólares em riqueza das famílias e 8 milhões de empregos”.
Do outro lado da trincheira, os banqueiros e altos executivos da indústria financeira tiveram “crescimento de renda sem precedentes na década passada, com os trabalhadores mais bem pagos levando para casa quase um terço de todo o valor dos salários no Reino Unido”, conforme análise do Centro para a Performance Econômica da London School of Economics, relatada pelo “Financial Times” na segunda-feira.
Diz o jornal: “O estudo revela que os auto-denominados ‘mestres do universo’ foram os os grandes ganhadores sob o governo trabalhista, com os 10% no alto da escala de salários vendo seus ganhos subirem de 27% para 30% entre 1998 e 2008”.
Essa turma levou para casa 12 bilhões de libras adicionais por ano, ao fim da década, de acordo com o estudo, o equivalente a R$ 32 bilhões, dinheiro para ninguém botar defeito seja qual for o país.
É natural que os “mestres do universo” –ou corsários, como prefiro– se insurjam contra o pacote Obama cujos pontos centrais não são em absoluto revolucionários.
Trata-se de estabelecer um sistema forte de proteção ao consumidor de produtos financeiros; de dar transparência aos negócios; de tapar os buracos que permitiram o comportamento “irresponsável e temerário” do sistema financeiro; de “tornar Wall Street responsável” [perante os consumidores de seus produtos] e de dar aos acionistas novos poderes no sistema.
Obama denuncia que continuam em ação os “interesses especiais” que minaram qualquer possibilidade de impor regras de bom senso aos corsários. Tanto que, sempre segundo o presidente, chamaram, dias atrás, o líder republicano no Senado e o chefe do comitê de campanha republicano no Senado para “conversar sobre como bloquear progressos neste assunto”.
Essa sim é uma guerra que interessa ao mundo todo.
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