Pouco a pouco, a história vai se delineando. A prisão de Faisal Shahzad em pleno aeroporto JFK, apenas dois dias depois de o jovem paquistanês ter deixado um artefato explosivo em Times Square é uma vitória espetacular do sistema de segurança pós 11 de setembro. Especialmente do serviço de segurança sob as regras digamos mais humanitárias, da era Obama. Se por um lado mostrou que as técnicas de investigação evoluíram muito, por outro é preciso reconhecer também que os agentes contaram com algumas falhas sérias de treinamento por parte do terrorista, difíceis de ocorrer em situações similares. Tentar escapar da cidade depois de uma tentativa de atentado desse porte pelo aeroporto mais movimentado e vigiado na costa leste foi um gesto de infantilidade. Pior, Shahzad queria fugir em um voo que seguiria dali para Dubai, ou seja um destino lógico para quem pretendia voltar ao Paquistão. Além disso, comprou pessoalmente o Pathfinder. Se não pretendia realizar um ataque suicida, tal decisão demonstra inexperiência e falta de treinamento.
No blog anterior comentei que o artefato explosivo não parecia tão simples, ou melhor, rudimentar, como aparentavam indicar as primeiras análises. Na realidade não era simples, mas não chegava a ter o grau de letalidade de bombas que a rede Al Qaeda havia espalhado anteriormente. A tese da detonação por etapas parece ser lógica e correta, porém num detalhe o artigo anterior estava equivocado. O fertilizante encontrado em uma caixa de arma não era do tipo que, combinado a outros elementos, poderia transformar a Pathfinder em uma bomba de grandes proporções. Dada a confirmação, pelo FBI, de que o paquistanês havia recebido um curso de explosivos em seu país natal, pode-se perceber que tentou improvisar o artefato sem conhecer direito as alternativas.
Shahzad foi treinado pela Al Qaeda na região do Waziristão, província tribal entre o Paquistão e o Afeganistão onde, acredita-se, está escondido Osama Bin Laden. A área também é o berço do talibã, o que, de certa forma confirma a requisição de autoria do atentado por parte de um grupo vinculado à milícia extremista afegã. Comentei aqui anteriormente sobre o Lashkar-e-Taiba, ou LeT, hoje a maior preocupação americana, considerado uma reorganização da Al Qaeda sem o primitivismo ideologico e estratégico desta. O LeT foi o autor do selvagem ataque a Mumbai no qual morreram mais de 160 pessoas, incluindo turistas estrangeiros.
Os erros de procedimento cometidos pelo paquistanês o fizeram ser capturado, mas é evidente que ele não agiu sozinho. A preparação, o planejamento e a execução não são penas obras do “homem de Wall Street”, como seus vizinhos em Connecticut acreditavam ser a sua profissão. Na verdade pode simbolizar um dos pesadelos das autoridades de segurança americanas: a chamada “sleepy cell”, um terrorista treinado e preparado para se instalar no país, adaptando-se à vida cotidiana, até ser acionado par agir em um determinado momento. Shahzad foi preparado para ser visto como um americano comum, e assim não despertar suspeitas. De qualquer modo, deixou tantos rastros nesse processo que acabou preso sem maior dificuldade.
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