The Scandals behind the Gulf Leak

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A maré negra é uma catástrofe ecológica de enorme gravidade que tem estado a perturbar a Administração Obama – e o próprio Presidente – à medida que se vão conhecendo as facilidades irresponsáveis concedidas à Britsh Petroleum (BP) pela administração americana, desde o tempo de George W. Bush. Realmente, escreve o correspondente nos Estados Unidos do Nouvel Observateur, Philippe Boulet- -Gercourt: “As relações incestuosas e a corrupção generalizada não se limitam a alguns indivíduos ou a alguns escritórios da Administração. Existe um pipeline, em Washington, que lança diariamente o seu conteúdo: uma onda de dólares que inunda o Congresso. Na última década, o lobby do gás e do petróleo, despejou 234 milhões de dólares para os cofres dos candidatos e do partido republicano.” E noutro ponto: “Duas refinarias americanas da BP representam 97% das violações flagrantes constatadas, nos últimos três anos, pela agência que supervisionava as refinarias. E a conclusão desta agência é: a BP tem um problema sério, sistémico de segurança.”

Quer isto significar que a maré negra não foi um acidente natural e ocasional. Foi o resultado da ganância de uma empresa que não só não cumpriu os regulamentos, como corrompeu funcionários e políticos para fecharem os olhos e não denunciarem as irregularidades ocorridas.

O desprezo pela natureza está a criar condições de vida muito graves, que quem vai pagar – e duramente – são as gerações vindouras. É preciso reagir contra as ameaças que pesam, pela incúria humana, sobre o nosso planeta. Os ecologistas têm-no dito em todos os tons. Mas como? Se, em Copenhaga, os dois grandes – América e China – resolveram adiar e talvez destruir as esperanças dos ecologistas e dos próprios Estados europeus para lutar contra as ameaças que afectam o Planeta e, consequentemente, a humanidade. Os interesses materiais dos poderosos – privados e públicos – contam mais do que os valores dos seres humanos, de todos os continentes. E, em casos extremos – o da maré negra, por exemplo, que atinge as costas do golfo do México – os Estados que as sofrem e os dinheiros necessários para recompor as coisas, são sempre os contribuintes que os têm de pagar.

Para fazer uma ideia dos meios empregues para tentar evitar algumas das consequências da maré negra, anote-se que mil pessoas e mil e quatrocentas embarcações participam diariamente nas operações de extracção do petróleo; 45 milhões de crude já foram extraídos do golfo; e cem mil quilómetros quadrados constituem, por agora, a área proibida à pesca (vide Expresso, de sábado).

Tratou-se de um caso de incúria ou de crime? Os peritos ainda não averiguaram. E as consequências não são ainda todas conhecidas. Prevêem-se, até Novembro, furacões, em virtude do aquecimento anormal das águas. Ora, as populações da Luisiana estão revoltadas, quando o Katrina ainda está vivo na lembrança de todos. Quanto à destruição da biodiversidade – e das espécies raras da região – parece ser, em alguns casos, irreparável.

Assim vai o mundo de hoje, orientado pela ideologia neoliberal, em que aquilo que conta é o dinheiro, o valor supremo. Os princípios éticos estão arredados, ao que parece, da gestão de grande parte das instituições financeiras mundiais. Daí a crise global que nos afecta.

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