Obama, Israel’s Lawyer

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Obama, o advogado de Israel

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Em seu encontro de segunda-feira com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente Barack Obama desdenhou conselho de alguém que tem enorme experiência em negociações entre palestinos, israelenses e norte-americanos.

Em artigo publicado na terça-feira pelo “Los Angeles Times”, Aaron David Miller sugeriu o seguinte: “Advogue pelo acordo [de paz], não apenas por um lado ou o outro”.

David Miller foi conselheiro de secretários de Estado, tanto republicanos como democratas, em negociações entre árabes e israelenses. Nessa condição, tomou parte na célebre reunião de Camp David, 10 anos atrás, entre os presidentes Bill Clinton e Yasser Arafat e o primeiro-ministro israelense da época Ehud Barak, atualmente ministro da Defesa.

Hoje, no Centro Internacional Woodrow Wilson, David Miller cita Henry Kissinger, um dos mais badalados secretários de Estado norte-americanos, que dizia que, demasiado frequentemente, os Estados Unidos funcionaram como advogado de Israel, em vez de compreender que o seu cliente era o acordo e que deveriam advogar para ambos os lados. Bingo.

Ao receber Netanyahu, Obama esquivou-se completamente do tema que é o maior impedimento, no momento, para as negociações de paz entre palestinos e israelenses: a construção –ilegal– de residências para colonos judeus em territórios palestinos.

Não por acaso, a Betselem, respeitada instituição israelense (atenção, israelense, não palestina) divulgava no mesmo dia do encontro Obama-Netanyahu a informação de que os assentamentos judaicos controlam 42% da Cisjordânia ocupada, embora a área construída represente apenas 1% do total.

Acontece que as fronteiras municipais dos assentamentos são dez vezes maiores que a área habitada. De acordo com a Betselem, a população de colonos quase triplicou desde 1993, de 110 mil para 301,2 mil.

A organização acusa o governo israelense de descumprir o compromisso assumido com o governo dos EUA do ex-presidente George W. Bush, em 2003, de congelar todas as construções.

Obama tampouco mencionou, pelo menos em público, três dos quatro pontos que definirão qualquer acordo de paz entre israelenses e palestinos, a saber: Jerusalém, cuja parte oriental os palestinos reivindicam como sua capital; fronteiras e refugiados. Citou apenas aquele que interessa especificamente a Israel, aliás com toda a razão: segurança, ou seja, o direito que tem o Estado judeu de existir em segurança.

Como Israel é a potência ocupante, todo o dossiê do acordo de paz depende de iniciativas de seu governo. Mas tudo o que Netanyahu se comprometeu a fazer foi, eventualmente, transferir a responsabilidade por mais áreas da Cisjordânia às forças de segurança palestinas. Nada que vá ao cerne da questão.

Enquanto escamoteava os pontos que Israel deveria atender, se quer mesmo a paz, Obama aceitava fazer cobranças aos palestinos sobre o que o jargão israelense chama de “incitamento”. Netanyahu quer que a Autoridade Palestina – a única que se dispõe a negociar a paz, já que o Hamas, que governa Gaza, quer é aniquilar Israel – “prepare seu povo para a paz, nas escolas, nos livros-texto e assim por diante”.

É uma alusão à suposta ou real pregação do ódio em livros escolares e, por extensão, nas escolas palestinas. Obama comprou a tese, ao dizer que “é muito importante que os palestinos não busquem desculpas para o incitamento e não se engajem em linguagem provocativa”.

Dificilmente, haveria demonstração mais contundente de advocacia de um lado só, exatamente o contrário do que sugere o experiente Aaron David Miller, que é judeu, como o nome indica, mas não é dogmático.

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