The General in His Labyrinth

<--

O general no seu labirinto

Na generalidade, os generais obedecem. Ao Poder Político. Na maior parte dos países do chamado “Ocidente”. E não por acidente. É uma longa história, com altos e baixos, avanços e recuos, dúvidas e clareza. Em nações conquistadas pela espada, foi preciso, muitas vezes, manter uma força militar forte e permanente. Nalguns desses modelos, tal força, adicionada ao desgoverno dos civis, foi uma tentação para os generais, que decidiram intervir no Poder político: reinando, vigiando o reino, ajudando a reinar. Chamou-se a isto “pretorianismo”, por semelhança à guarda imperial da Roma decadente, capaz de entronizar e destronar Césares.

Noutros casos – sobretudo no chamado “mundo em desenvolvimento” – os militares, como única força coerente e organizada da sociedade, foram vanguardas do desenvolvimento e da modernização. No aspecto menos brilhante, os generais passaram à vida civil como proprietários e gestores de empresas, continuando a influência social, por outros meios.

Claro que, nos EUA, a tradição é, simultaneamente, de um exército profissional (no fim do século XX), e de tripla subordinação civil: ao presidente, como comandante supremo, ao secretário da Defesa, como ministro da tutela, ao Congresso, como dono do orçamento militar e corpo de fiscalização política.

Nesse sentido, a entrevista do general Stanley McCrystal, chefe da forças americanas no Afeganistão, ridicularizando os decisores políticos de Washington (do “embaraçado” Obama ao “palhaço parado no tempo”, Jim Jones, do “ninguém” Joe Biden aos variados “incompetentes”) não podia passar em claro.

Mas McCrystal era um caso límpido e fácil de demissão. Como chefe operacional, acumulou falhanços e fantasias, mais uma vez por aplicar no terreno lições – irrepetíveis – do Iraque.

O seu substituto, David Petraeus, embora tenha de ser culpabilizado por parte dos insucessos, como chefe do Comando Central, é um reconhecido pronto-socorro. Na charada afegã, vai ter de preparar uma retirada com honra, em 2011, e sobretudo de explicar aos seus oficiais que Cabul não é Bagdad, os talibãs não são nem os saddamistas nem a al-Qaeda, e o Paquistão não é o Irão.

About this publication