Cerca de 8 mil soldados dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, a bordo de 20 belonaves, 200 jatos de combate e o porta-aviões USS George Washington ? um dos mais modernos da frota americana ?, participam de grandes exercícios militares nas águas do Mar Amarelo, entre o Japão e a Península Coreana. A ideia original de realizá-los no trecho que separa a China e a península foi abandonada depois de vigorosos protestos do governo de Pequim.
A operação, chamada Espírito Invencível, se destina a transmitir à Coreia do Norte a mensagem de que os EUA estão determinados a apoiar irrestritamente o aliado sulista, agora que as tensões na região tornaram a se agravar. A nova crise foi desencadeada pelo torpedeamento da corveta sul-coreana Cheonan em 26 de março, com a morte de 46 marinheiros. Uma comissão internacional de investigação constituída por Seul culpou o Norte pelo ataque imotivado.
Pyongyang negou a acusação e respondeu com uma estridente sequência de ameaças. A tréplica tomou a forma de um “coreografado espetáculo de pressões”, no dizer de um observador, contra o regime feudal-nuclear de Kim Jong-il, cuja saúde é precária. O endurecimento norte-coreano, aliás, é atribuído à disputa entre os hierarcas da ditadura pelo trono que poderá ficar vago em breve.
A demonstração foi precedida da decisão americana de impor novas sanções econômicas unilaterais à Coreia do Norte. Elas foram anunciadas pela secretária de Estado Hillary Clinton na sua segunda visita ao Leste da Ásia em dois meses. Em maio, sintomaticamente acompanhada do comandante da frota americana no Pacífico, almirante Robert Williard, Hillary foi a Pequim para insistir com o presidente Hu Jintao no imperativo de o Conselho de Segurança da ONU (CS) punir a agressão ao Cheonan com a aplicação de sanções. Foi inútil. A China, que sustenta a mais fechada tirania do globo, conseguiu que o CS condenasse o torpedeamento sem mencionar a Coreia do Norte.
Agora, na quarta-feira, desta vez em companhia do secretário de Defesa Robert Gates, Hillary escolheu Panmunjom, na chamada zona desmilitarizada entre as Coreias, onde guardas dos dois países se encaram a pouca distância e perscrutam com binóculos as instalações inimigas, para lembrar os 60 anos do início da Guerra da Coreia (1950-1953). O conflito, em que tropas americanas e chinesas ficaram frente a frente, deixou a península dividida em dois países que permanecem apenas em trégua.
O simbolismo não poderia ser mais óbvio: os EUA declaravam que a sua solidariedade a Seul permanecia a mesma de mais de meio século atrás. “Nossa aliança militar (com a Coreia do Sul) nunca foi tão forte e capaz de deter qualquer agressor”, advertiu Gates. Menos nítido foi o conteúdo propriamente dito das sanções adicionais americanas. Hillary declarou que os EUA vão apertar o cerco em torno do comércio de armas, bem como à circulação de dinheiro e produtos de luxo (falsos) produzidos no Norte e (autênticos) importados por Pyongyang para a sua nomenklatura.
Os alvos são “a liderança norte-coreana e seu patrimônio”, disse a secretária. “Visam às políticas desestabilizadoras, ilícitas e provocativas daquele governo.” A pergunta que os analistas se fazem é que efeito podem ter essas punições para um regime que já é o mais isolado do mundo. Por ter realizado testes nucleares e lançado um míssil de alegado longo alcance, a Coreia do Norte sofreu sanções do Conselho de Segurança em 2006 e 2009. As mais recentes autorizam a abordagem de cargueiros a caminho ou vindos do país para verificar se transportam materiais para armas de destruição em massa.
O problema de fundo, em todo caso, não é tanto o efeito das novas medidas em Pyongyang, mas em Pequim. Claro que as importantes relações econômicas e financeiras entre os EUA e a China limitam a exasperação mútua com as políticas de cada qual para a Coreia do Norte. A atitude chinesa, desde o episódio do Cheonan, tem sido a de pedir contenção às partes envolvidas. Resta saber se a China conterá a tentação do aliado de retaliar Seul pelas manobras navais conjuntas com Washington.
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