O fim do ”sonho americano”?
O Financial Times publicou extensa reportagem em que o chamado “sonho americano”, isto é, a possibilidade de sair do nada e se realizar financeiramente nos EUA, passou a ser chamado de “devaneio errático americano”.
O retrato que o jornal faz da classe média dos EUA, aquela que forneceu o oxigênio das crenças mais profundas no potencial do país, é devastador. Em vez de economizar para projetos de uma aposentadoria confortável e para permitir conquistas materiais para os filhos, as famílias americanas lutam no limite tênue do pagamento das contas no fim do mês.
“Se perdermos nosso emprego, teremos apenas três semanas de economias antes de chegarmos ao osso”, conta Mark Freeman, mostrado pelo FT como exemplo da situação. “Trabalhamos dia e noite para economizar para nossa aposentadoria, mas não estamos a mais do que dois contracheques da rua.”
Mark e Connie Freeman não ganham mal. Fazem US$ 70 mil por ano, um terço acima da média. Isso não alivia a situação deles e de milhões de outros casais no país – a imagem da vibrante e descolada classe média retratada nas séries de TV americanas representa menos de 10% da população. “O resto vive como os Freeman, ou pior”, diz o jornal.
O FT conta que a renda média da maioria absoluta dos americanos cresceu apenas 10% nos últimos 37 anos, enquanto o 1% mais rico no país viu sua renda triplicar no mesmo período. Altos executivos ganhavam 26 vezes a média salarial do país; hoje, são 300 vezes.
Com uma classe média sem mobilidade econômica, é difícil imaginar que os EUA consigam sair tão cedo da estagnação. Michael Spence, Prêmio Nobel de Economia de 2001, considera que esse cenário levou os EUA a uma profunda crise de identidade: “Ser pessimista sobre o futuro é algo muito novo para os americanos”.
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