A capa da última edição da revista Time mostra uma afegã de 18 anos que teve o nariz e as orelhas decepadas por ordem do Taleban. Ela foi castigada por ter fugido da casa do marido. Ao lado da foto, o título é sugestivo sobre a posição da revista: “O que acontecerá se deixarmos o Afeganistão”. Ou seja: para a publicação, a presença americana naquele país é a garantia que, de alguma forma, a barbárie do Taleban será combatida.
O editor Richard Stengel, que tomou a decisão de publicar a foto na capa, argumentou: “Coisas ruins acontecem às pessoas, e é parte do nosso trabalho confrontá-las e explicá-las. Senti que essa imagem é uma janela para a realidade do que está acontecendo – e do que pode acontecer – numa guerra que afeta e envolve todos nós”.
Mas a “verdade emocional” da Guerra do Afeganistão, que Stengel quis transmitir com sua iniciativa, mal rivaliza com a brutalidade impressionante de alguns dados que Nicholas Kristoff, colunista do New York Times, acaba de publicar. Kristoff mostra que a chamada “guerra ao terror” já é a mais cara da história americana, fora a Segunda Guerra. E o atual presidente, o democrata Barack Obama, vai gastar mais do que seu antecessor, George W. Bush, no conflito.
Além disso, diz Kristoff, os EUA já gastam na área militar mais do que no pico da Guerra Fria, na Guerra do Vietnã ou na Guerra da Coreia. A Marinha americana, por exemplo, dispõe de uma frota maior do que a frota combinada dos 13 países seguintes no ranking. Por outro lado, os EUA deixaram de ser o país com a maior proporção de jovens graduados em faculdades e agora estão em 12º lugar.
Os EUA gastam muito e gastam mal. O custo anual de um único soldado americano no Afeganistão seria o bastante para construir 20 escolas naquele país – o que, na opinião de Kristoff, seria mais eficiente para neutralizar o extremismo na região. “Educação pode transformar um país.”
E então voltamos à foto da afegã mutilada e ao dilema americano: como a imagem mostra, a guerra talvez seja necessária. Por outro lado, nove dias de combates no Afeganistão custam o equivalente a todo o dinheiro que foi despendido na Guerra de Independência dos EUA – e o conflito só piora. Por essa razão, é o caso de perguntar, como faz Kristoff: “Senhor Obama, não está na hora de rever as prioridades?”.
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