The Pain in the Butt at the White House

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Os chatos na Casa Branca

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Entre a barragem de informações que a Casa Branca envia diariamente aos jornalistas registrados no seu “mailing list”, a rubrica mais recente chama-se “Daily Snapshot”, um instantâneo diário das atividades do presidente Barack Obama.

O “Snapshot” desta quarta-feira me chamou particularmente a atenção porque acaba atendendo um pouco do que eu defendo como cargo indispensável na sede do governo (qualquer governo): o posto de chato de plantão, com liberdade suficiente para dizer ao poderoso de turno as coisas que os bajuladores que o cercam em quantidade industrial preferem omitir.

Na Casa Branca, não há exatamente um chato de plantão mas um sistema de correspondência a que o próprio Obama se obrigou a ler desde que assumiu. Das 65 mil cartas em papel que a Casa Branca recebe, dos 100 mil e-mails, dos mil faxes, sem contar de 2.500 a 3 mil ligações telefônicas diárias, o presidente lê e responde pessoalmente a dez.

Tudo bem que você aí, já tomado pelo ceticismo a caminho do cinismo em relação aos políticos (todos, do mundo todo), dirá que a seleção das cartas é edulcorada para que Obama só leia as menos desagradáveis.

Mike Kelleher, diretor do escritório de correspondência da Casa Branca, diz que não é assim. As cartas selecionadas “são as que melhor representam o que está acontecendo no momento”.

Kelleher acrescenta que o presidente diz sempre que não quer viver numa bolha. Ou seja, sente necessidade de mais de um chato por dia para lhe dizer que o mundo fora da Casa Branca não é tão cor-de-rosa.

No vídeo, o próprio Obama aparece dizendo que algumas cartas são de quebrar o coração. E lê uma delas, de um casal de aposentados que narra os problemas do genro com o seu seguro saúde, conta que o rapaz ficou desempregado e que a necessidade de ajudar o casal está “comendo a nossa aposentadoria”.

É claro que, no Brasil, uma carta com essa história seria leve, mas, nos Estados Unidos, o país mais rico do mundo, tem outra dimensão.

No fundo, o esquema adotado pelo presidente norte-americano permite, ao menos em tese, romper a lógica de uma antiga e bem feita propaganda, em que um subordinado diz ao chefe “bonita camisa, Fernandinho”. Lembra-se? Pois é, dez vezes ao dia Obama é lembrado que a sua camisa de presidente nem sempre é bonita.

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