Anger and Fear Influencing Americans

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Entre janeiro de 2000 e novembro de 2008 a maioria dos europeus viveu anos de apreensão em relação aos EUA. As sociedades do Velho Continente nunca se deram bem com a personalidade e as políticas de George W. Bush. A apreensão e o medo esfumaram-se na madrugada de 5 de novembro de 2008 quando Barack Obama foi eleito Presidente dos EUA.

Nessa noite a Europa sentiu que a sua América estava de volta. Obama prometia ser um Presidente inspirador, capaz de unir e galvanizar o país. E, aí, anestesiados com uma eleição histórica deixámos de nos preocupar com os EUA. Afinal de contas, o que é podia correr mal num país liderado por um homem com a educação e talento de Obama? O que é que podia correr mal com os democratas a controlar a Câmara dos Representantes e o Senado?

A resposta é: muita coisa. Os EUA são um país continental com uma cultura política muito diferente da das sociais-democracias europeias. Exemplos? A maioria dos americanos não concorda com as opções de Obama ao nível da economia, saúde, défice orçamental e imigração. Em termos históricos, a sua taxa de aprovação é muito baixa. Mais de metade dos americanos acham que Barack Obama é “socialista”. Ao contrário do que acontece com Portugal, a conotação com o socialismo é o caminho mais rápido para o descrédito político e a derrota eleitoral nos EUA.

Parte do problema político de Obama tem a ver com a situação económica e o desemprego. Uma outra parte tem a ver com a dificuldade de o Presidente estabelecer uma relação emocional com o eleitorado americano. No caminho para a Casa Branca, Obama escreveu de uma forma eloquente sobre si, a sua família e os seus sonhos para a América. Os seus livros “Dreams from my Father” e “The Audacity of Hope” são os melhores exemplos da sua tentativa de se apresentar aos EUA e ao mundo. Mas, praticamente dois anos após a sua eleição, o Presidente continua a ser um mistério para os americanos. Ninguém parece saber muito bem em que é que Obama acredita ou o que quer. A controvérsia à volta do centro cultural islâmico na baixa de Manhattan é o último exemplo deste problema.

Estes dois pontos, todavia, não explicam tudo. Há algo mais profundo e muito mais forte do ponto de vista político a acontecer na América. A melhor maneira de ver isto é prestar mais atenção ao que está a acontecer fora de Washington. O que me tem chamado a atenção são coisas como fúria e medo.

A fúria tem a ver com as divergências entre as elites políticas e a sociedade americana em relação às políticas públicas nas áreas da saúde e imigração e às opções que foram tomadas pelas administrações W. Bush e Obama durante a crise financeira e a recessão. O melhor exemplo desta fúria é a longa tirada de Rich Santelli, editor do canal de televisão CNBC Business News, contra a Administração Obama na Bolsa de Chicago a 19 de Fevereiro de 2009. Na base desta célebre tirada estão ideias como a primazia do indivíduo sobre o Governo, a responsabilidade orçamental e um governo limitado constitucionalmente. O movimento Tea Party, que está a agitar a política americana e as primárias dos republicanos, é o melhor sinal da revolta de parte do eleitorado contra as elites políticas a nível estadual e federal.

O medo está relacionado com o pessimismo em relação ao futuro. Do lado de cá do Atlântico, associamos a América ao otimismo. Mas, como Peggy Noonan chamou a atenção no “Wall Street Journal” no início do mês, a grande mudança política nos últimos anos é que os americanos deixaram de acreditar que os seus filhos terão um futuro melhor do que o deles. Num país com a história e a cultura política dos EUA, esta é uma mudança enorme. Onde é que está Barack Obama? Onde é que estão as elites políticas capazes de reinventar o sonho americano?

A hora de voltarmos a prestar atenção ao que se passa na sociedade e na política americana está aí.

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