The Big Rivalry

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A grande rivalidade

Duas notícias recentes mostram que nos próximos anos as relações entre Pequim e Washington serão marcadas pela rivalidade estratégica.

A primeira chegou segunda-feira quando Tóquio divulgou os números do seu crescimento económico durante o segundo trimestre. Os números do Japão sugerem que no final deste ano a economia chinesa será a segunda maior do mundo, atrás da dos EUA. Se tivermos presente onde estava a China em 1978 e tudo o que aconteceu na economia internacional nos últimos três anos, a ascensão de Pequim é notável. Em 32 anos, a economia chinesa aumentou 90 vezes. A segunda notícia chegou há um mês quando a Agência Internacional de Energia anunciou que a China tinha passado os EUA no consumo de energia.

O crescimento económico e o consumo de energia têm sempre consequências estratégicas. Mas, como se tem argumentado nesta coluna, as consequências não podem ser desligadas da história, geografia e evolução da sociedade e da economia chinesa.

A primeira coisa a ter em conta quando falamos sobre a economia de Pequim é que o rendimento per capita dos chineses é ainda muito baixo – cerca de 3,600 dólares, um valor parecido com o da Argélia, El Salvador ou a Albânia. E, se tivermos em conta onde é que a riqueza está localizada na China, vemos que as disparidades entre as províncias da faixa marítima do Pacífico e as do interior são enormes. Além disso, tem sido difícil desenvolver uma cultura de consumo na sociedade chinesa. Esta dificuldade torna a economia chinesa completamente dependente das suas exportações para os mercados internacionais. Os decisores chineses sabem melhor do que ninguém que a próxima década será extremamente exigente em termos de política doméstica.

O que é que me leva então a escrever que as relações entre Pequim e Washington serão marcadas pela rivalidade regional? A retórica e as ações dos decisores chineses e americanos nos últimos meses. Começando pelos primeiros, o crescimento da economia tem permitido a Pequim ser uma espécie de locomotiva regional das economias mais desenvolvidas da Ásia.

Como a história mostra, as locomotivas económicas têm sempre ambições estratégicas a nível regional. A China não é uma exceção.

O melhor exemplo desta ambição tem sido a retórica e as ações de Pequim no Mar do Sul da China e a construção de forças navais com verdadeiras capacidades de projeção de poder militar no Pacífico ocidental. A crescente dependência da economia chinesa em relação ao petróleo importado do Médio Oriente também tem levado Pequim a desenvolver a infraestrutura e os meios necessários para proteger as suas linhas de comunicação marítimas no Oceano Índico.

A geografia política dos estreitos regionais – Malaca, Funda e Lombok – não favorece a China mas os seus governantes estão determinados a ter acesso a um deles pelo menos.

As ambições regionais chinesas têm causado ansiedade no Japão, Coreia do Sul, Singapura, Vietname, Indonésia, Austrália e Índia. Esta ansiedade tem vindo a ser comunicada e aproveitada pela Administração Obama. O que está em jogo do ponto de vista estratégico é muito importante para Washington. Os EUA são o ator mais influente do ponto de vista político e militar na região da Ásia-Pacífico desde 1945. São e querem continuar a ser.

Barack Obama não foi certamente eleito para abdicar da primazia norte-americana. As palavras de Hillary Clinton em Hanói no mês passado sobre o Mar do Sul da China mostram que Washington e os seus aliados regionais estão interessados em gerir e conter a ascensão de Pequim.

Como ficam os decisores chineses e americanos e a região do Índico à Ásia-Pacífico? A gestão desta rivalidade exigirá líderes competentes e bom senso, tanto na China, como nos EUA.

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