Eisenhower’s Shoes

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As botas de Eisenhower

O que fazia o dedo acusador do general Petræus por entre a multidão que censurou a ridícula mise-en-scène do pastor Terry Jones e dos seus 50 maluquinhos? Quando uma alta patente militar decide opinar sobre matérias respeitantes às liberdades civis protegidas constitucionalmente, é caso para questionar as suas motivações. Será que Petræus começa a pensar numa eventual candidatura presidencial, já em 2012?

Provavelmente nem o próprio saberá responder, mas os rumores criados pela sua desastrada intervenção moralizadora são inequivocamente prejudiciais —para ele e para os esforços de estabilização do Afeganistão: para calçar as botas de Eisenhower, Petræus necessita, pelo menos, de conseguir uma solução negociada a partir de uma posição de força, que impeça os talibãs de readquirem um controlo total sobre o território afegão (chamar-lhe Estado parece-me um exagero inadmissível). Esse objectivo estará irremediavelmente comprometido a partir do momento em que o detentor do poder executivo acreditar que o comandante das forças militares ISAF e USFOR-A no Afeganistão é um potencial candidato à próxima eleição presidencial. Até às eleições para o Congresso americano em Novembro, nada de importante acontecerá, mas em Dezembro a presidência efectuará uma avaliação estratégica da guerra do Afeganistão, que poderá ser decisiva para o curso da guerra até 2012. Nessa altura, as eventuais ambições políticas de Petræus constituirão mais um factor a complicar o que já é complicado e a dificultar o que já é extremamente difícil.

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