The Tea Party and America

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A América entrou num novo território político. Não, não me refiro à implosão da coligação política da esquerda, centro-esquerda e independentes que elegeu Barack Obama em novembro de 2008. Esta coligação oscila entre a desilusão, a exaustão e a deserção.

Refiro-me sim ao movimento Tea Party. Este movimento tende a ser visto na Europa como um conjunto de grupos de uma extrema-direita radical, religiosa, ignorante e ressentida em relação à evolução dos EUA e da política internacional.

É verdade que o movimento Tea Party tem muitas pessoas com ideias populistas e lunáticas. Mas também é verdade que este movimento altamente descentralizado se tornou num curtíssimo espaço de tempo numa plataforma política tão popular como os Partidos Democratas e Republicanos juntos. Acho que aqueles que na Europa olham para esta constelação política como uma aberração passageira estão enganados. A rápida ascensão deste movimento informal e espontâneo mostra que algo de muito profundo se está a passar no centro e na direita americana.

O combustível e a enorme paixão política que anima os partidários do Tea Party assenta em duas coisas. A primeira – o tamanho, o papel e o custo do governo federal e das responsabilidades já assumidas – é quase incompreensível em Portugal, um país em que as elites e a sociedade se habituaram a viver à sombra do Estado. Ao contrário do que acontece com a esmagadora maioria dos portugueses, os apoiantes do Tea Party estão extremamente preocupados com o impacto da dívida externa, do défice orçamental e do custo dos programas da saúde e da segurança social no futuro dos EUA.

A segunda tem a ver com a consciência de que as instituições e o sistema político deixaram de funcionar em benefício do bem comum. As sondagens mostram que a sociedade americana tem uma péssima impressão de Washington, do Congresso e dos Partidos Republicano e Democrata. O movimento Tea Party é uma reação contra o pântano político e institucional na capital americana.

Se este movimento não é algo de transitório – e eu acho que não é -, vale a pena fazer duas perguntas. Primeiro: será que o Tea Party vai mesmo conseguir tornar-se numa força influente na política doméstica dos EUA? Segundo: quais serão as consequências estratégicas da ascensão deste movimento?

Começando pela primeira questão, o primeiro alvo do Tea Party começou por ser o Partido Republicano. Este facto foi muito notado nos países europeus e levou à conclusão de que o campo conservador americano ia implodir nas vésperas das eleições de 2 de novembro para o Congresso. Em vez disto, temos vindo a assistir à negociação de uma série de alianças pragmáticas entre os grupos do Tea Party e os republicanos. Se estas alianças continuarem para além de 2010 e se o centro for persuadido a entrar nesta coligação, a política americana mudará. Se isto não acontecer, é altamente provável que apareça uma nova força política na sociedade dos EUA.

Ao nível estratégico, vamos assistir a um intenso debate no campo conservador americano. No centro deste debate vão estar as prioridades externas de Washington e o seu orçamento de defesa. Uma série de republicanos influentes como Alan Simpson, Tom Coburn, Rand Paul e Mitch Daniels têm defendido que as realidades orçamentais exigem uma reavaliação da política de segurança nacional. No campo do Tea Party há imensa gente que concorda com esta posição. Sarah Palin, curiosamente, discorda. As capitais europeias estão cheias de gente que espera que Palin ganhe este debate. Quem diria?

Miguel Monjardino

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