The Operating System

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O sistema operativo

Pod, Pad, Phone. Todos “i”, todos Apple, todos saídos da mesma linha empresarial com que o apurado sentido de “product development” de Steve Jobs faz da marca uma incontestada líder em “cobiça dos consumidores”.

É a “guerra do gadget” a revelar ao mundo, em forma de síntese miniaturizada, tudo o que há de diferenciado na marca; durante anos, um equívoco foi alimentado – como muitos equívocos – pela estigmatização: supostamente, os Apple seriam para “as elites” (um termo notoriamente pejorativo, como ilustra a justaposição com o seu antónimo) e, pasme-se, teriam “o defeito” de ser bem desenhados.

Há muito que se tenta eufemizar um problema central na “indústria”: não há, nunca haverá, computadores “pessoais”. Nada é pessoal nestas máquinas, nem pode, tal é a pluricontinentalidade dos inúmeros mercados a que se destinam – veja-se, por exemplo, a redundância babilónica do número de línguas com que vêm pré-formatados, à espera da nossa selecção entre Coreano, Português (Europeu ou do Brazil) ou Senegalês… O que há, quando há, é uma forma do utilizador-consumidor conseguir um nível de controlo suficiente – real ou aparente – que lhe permita achar que a máquina não morde e que, portanto, pode arriscar-se a explorá-la; num Apple, o sucesso é mais provável, e tal não se deve nem ao aguçado desenho, nem ao voluptuoso som; deve-se ao sistema operativo, Mac OS X, a parte omnipresente do “software” que homogeneíza a relação entre aplicações e acesso aos conteúdos gerados pelas mesmas, falando uma língua que encoraja à experimentação e ao conhecimento de causa. Por trás de tudo isto está um axioma que gera valor sustentado nos papéis negociados em Wall Street pela empresa Californiana: a única linguagem universal é a criatividade.

Alheio, outro equívoco cresce, entretanto, com específica gravidade: o de que a criação e o consumo cultural seriam para “as elites” e que, nessa profecia auto-realizada da “ausência de mercado”, o lugar dos seus agentes seria a “subsidiodependência” (um outro termo que é um nado-morto, isto num País onde, se não for o Estado-cliente, muita coisa não escoa). Sabemos que o investimento Português na criatividade é de tal maneira despiciendo, que não há sequer hipótese de o incluir numa discussão orçamental séria; quanto aos agentes culturais, não penso que tenham nem mais, nem menos vícios do que quaisquer outros agentes da nação, como, digamos, “os professores”, “os agricultores” ou até mesmo, “os políticos”. Há quase 40 anos que os ditos agentes culturais têm sobre si a responsabilidade de fazer existir “uma” Cultura, perante uma escassez de meios em tudo semelhante à que têm, precisamente, os professores ou os agricultores. E um mesmo evidente direito a serem escrutinados pela mesma bitola do que, digamos, os políticos.

A criatividade faz parte integrante de qualquer sistema produtivo, e não é preciso nenhuma arte para o provar. Ou não tivesse sido a Revolução Industrial a replicação em massa do génio inventivo de homens como James Watt.

Falta a engenharia para criar o tal “sistema operativo” que nos safe do “crash” eminente da “obsoleta máquina” do conflito ideológico. A Califórnia há muito que faz por isso – veja-se o discurso de Steve Jobs na centenária Universidade de Stanford (stanford.edu) em 2005: é a segunda mais popular pesquisa no YouTube associada ao seu nome, logo ao seguir a “iPhone 4”.

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