The Voters’ Revolt

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A revolta dos eleitores

Em 1994, Bill Clinton conseguiu sobreviver à perda da dupla maioria no Congresso. Mas, caso se confirmem as sondagens e os democratas percam a Câmara dos Representantes na próxima terça-feira, a situação de Barack Obama será mais difícil, por causa da irritação em que se encontram os americanos.

Os americanos tencionam punir os políticos de Washington nas eleições intercalares que se realizam nos EUA na terça-feira e que servem para renovar o Congresso e as legislaturas estaduais. Os eleitores estão irritados com a economia, sobretudo aqueles que sentiram na pele o desemprego e as execuções hipotecárias que varreram o país.

A irritação estende-se a um tema que para um europeu parece estranho, mas que faz sentido neste contexto: o défice orçamental é considerado pela opinião pública como um dos grandes problemas dos EUA e os democratas estão a ser culpados pelos “excessivos” gastos federais.

A revolta dos eleitores deverá implicar uma derrota democrata nas eleições intercalares. O partido de Barack Obama vai perder o controlo da Câmara dos Representantes e pode também perder o Senado. Para alguns, este cenário não será diferente daquele que Bill Clinton enfrentou em 1994 e 1995 e que não impediu a sua reeleição, mas há vozes sensatas que lembram o estado da economia: Obama arrisca-se a ser Presidente de um único mandato e a paralisação política pode desencadear uma depressão económica.

Embora a era Bush tenha deixado um défice de 1,4 biliões de dólares (milhões de milhões) e apesar de a Administração Obama ter um plano para reduzir para metade a verba, atingindo em 2012 um défice pouco superior a 800 mil milhões de dólares, a opinião pública continua a culpar Obama e os democratas.

A popularidade do Presidente começou a cair em Fevereiro de 2009, quando Obama assinou o pacote de estímulo económico que terá salvado as finanças globais. Mas Obama foi perdendo o apoio dos independentes e dos pobres. Neste momento, conta com 90% dos afro-americanos e dois terços dos hispânicos, mas este crescente carácter étnico é mais problema do que vantagem.

As medidas que ajudaram as famílias, incluindo o estímulo e a reforma da saúde, foram impopulares, já que beneficiaram sectores que votam pouco na América, aumentando os gastos federais. Este efeito foi agravado pela retórica populista do Tea Party, que está a radicalizar o Partido Republicano. As dúvidas sobre a religião de Obama e a acção durante o derrame de petróleo no Golfo México só reduziram a popularidade do Presidente.

Os democratas pagam pelas execuções de hipotecas, que estão a atingir a classe média. Um milhão de famílias perdeu as suas casas e muitas viram o valor das habitações descer abaixo da hipoteca. Isto impede a mobilidade e afecta comunidades inteiras: a rebelião que se exprime no movimento Tea Party baseia-se parcialmente neste fenómeno.

E a cereja em cima do bolo é o escândalo dos robo-signers (assinaturas-robô), como definiu a imprensa. Pressionados pelos atrasos nos pagamentos, os bancos aceleraram os processos de execução, que em certos estados não precisam do tribunal. Resultado: uma vaga de execuções incompetentes, com muitas famílias a perderem a casa a que tinham direito ou que poderiam sustentar. Os bancos saem pela primeira vez chamuscados, mesmo depois dos escândalos de Wall Street. Surgiu entretanto uma boa notícia para a economia, que no segundo trimestre cresceu a ritmo anualizado de 2%. Mas será tarde para muitos políticos que terça-feira perdem o seu lugar.

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