From Kentucky to Mecca: What Do the Tea Party and Islam Have in Common?

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O que o islamismo e o Tea Party tem em comum? Os dois são vítimas de generalizações negativas, produzindo a islamofobia e teapartyfobia. Conforme escrevi aqui várias vezes, há enormes diferenças dentro dos seguidores do islã. A começar na divisão entre sunitas e xiitas, sem falar nas outras menores. Como comparar uma libanesa de biquíni com uma afegã de burqa? Ou um muçulmano de San Francisco com outro do Sudão? Um imigrante turco na Alemanha com um paquistanês na Inglaterra?

Em comum, todos têm uma crença em uma mesma religião. Dos 1 bilhão de muçulmanos no mundo, apenas uma minoria adere a uma vertente violenta e distorcida da religião. Para se ter uma idéia, no Afeganistão, calcula-se que vivam apenas 300 membros da Al Qaeda. No Yemen, o número é menor ainda.

Porém muitos insistem em se focar no braço mais radical, mostrando meia-dúzia de gatos pingados em um campo de refugiados palestinos em Beirute (na USP tinha mais) supostamente celebrando o 11 de Setembro, quando todos os chefes de Estado e de entidades islâmicas relevantes, incluindo Saddam Hussein e o Khatami, condenaram os atentados. A única exceção foi o Taleban no Paquistão.

O mesmo fenômeno ocorre com o Tea Party. Sempre buscam mostrar o que há de pior, descrevendo-os como racistas e parados no tempo, sendo contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto (aliás, como os dois principais candidatos brasileiros). Nas TVs, não paravam de falar na candidata de Dellaware, que anos atrás deu a entender que era contra a masturbação. Mas quatro em cada dez americanos não apóiam o Tea Party por causa disso.

Na verdade, esta ala republicana defende menos impostos, menos intervenção do governo na economia e menos gastos. Em geral, consideram os Estados Unidos um país excepcional, no sentido de ter sido “escolhido por Deus”, como diriam os brasileiros. Conforme afirmou Rand Paul, eleito senador pelo Kentucky, mesmo elevar os impostos sobre os americanos que recebem mais de US$ 250 mil por ano é errado. “Ocorre um efeito cascata e todos são afetados, já que os mais pobres trabalham e vendem para os ricos. Se estes tiverem menos dinheiro, todos serão afetados”, disse à CNN.

Mas, ao mesmo tempo que os integrantes do Tea Party compartem destes ideais, eles divergem em uma série de outros pontos. Para começar, existem dentro do grupo os libertários e os ultra-conservadores. Os primeiros acabam, no limite, se aproximando da esquerda em questões internacionais.

O símbolo dos libertários, Ron Paul, pai de um dos expoentes nesta eleição, condena os enormes gastos com defesa no exterior. Ele questiona o quanto vale para os EUA manter tropas no Iraque, no Afeganistão, na Alemanha e no Japão, além de dar ajuda financeira, com dinheiro dos contribuintes, para Israel, Egito e Jordânia. Se é um erro, na visão libertária, aumentar o Estado nos próprios EUA, imaginem em uma nação distante como o Afeganistão?

Os ultra-conservadores se aproximam da mais política externa de George W. Bush, de ataques preventivos. Não descartariam, por exemplo, uma ação militar contra o Irã. Não consideram um erro o governo americano ter gasto US$ 300 bilhões no conflito no Afeganistão.

Portanto aconselho se aprofundar no que diz o Tea Party antes de criticar. E o mesmo vale para islamismo. A Teapartyfobia, como toda generalização, é burra.

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