Facebooked, Only for Men

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Facebooked, só para homens

São génios a mais. É bom conhecer umas estúpidas para variar.

O rapaz sem amigos inventou o maior clube de amigos e chamou-lhe Facebook. Mark Zuckerman não deve ser exatamente igual ao Mark Zuckerman que encontramos no filme de David Fincher escrito por Aaron Sorkin (“The West Wing”). Também não deve ser diferente, apesar das liberdades da ficção. Um miúdo solitário que perde a namorada nos primeiros cinco minutos do filme depois de a massacrar com associações de ideias que parecem livres mas são conduzidas pela mente e pela lógica de Zuckerman, que tem um discurso em algoritmo. Deem-lhe uma palavra e o motor de busca alojado algures naquele cérebro organiza a pesquisa e providencia resultados. Os resultados são díspares e regurgitam informação mas têm um ponto comum: o cérebro organizador das conexões. O cérebro do inventor do Facebook tem TMI, como dizem os americanos, too much information.

Cansada da conversa unilateral e finalmente ilógica, a recipiente de TMI inútil deixa o génio plantado e foge em direção a uma vida normal. Chateado, este aluno de Harvard perito de sistemas operativos vai para o quarto da residência e bebe umas cervejas. Bêbado, resolve escrever no blogue umas calúnias e insultos sobre a (ex)namorada, alguns de natureza sexual, para se vingar. A miúda acaba ridicularizada perante toda a faculdade; a difamação na net, como ela diz, não é escrita a lápis e fica para sempre. O episódio edificante estabelece o caráter retorcido e canalha de Zuckerman. Já que está com a mão na cerveja, resolve inventar o Facebook pirateando todos os facebooks, livros de curso, universitários que consegue. O único amigo, Edward Saverin, um brasileiro, ajuda-o com um algoritmo que permita comparar as caras das mulheres expostas em função da atração erótica. Esqueci-me de dizer que o objetivo é humilhar as mulheres escolhendo-as e comparando-as aos pares para os rapazes votarem online qual delas é mais sexy. Numa noite, o tráfego deixa abaixo todas as comunicações web de Harvard. Welcome to Facebook.

Vários processos judiciais e acordos mais tarde, intentados por aqueles a quem roubou ideias e ajudas, o génio de 20 anos é nº1 do ranking da “Vanity Fair”. O mais rico e poderoso do novo establishment, batendo Bill Gates e Steve Jobs. Estes criaram jobs, Mark Zuckerman criou o maior e mais poderoso buraco de fechadura do mundo. 550 milhões de utilizadores. Mais preocupado com a privacidade dele do que com a dos outros, como ironizou Jon Stewart (ou seria Steve Colbert?), Mark Zuckerman criou um novo padrão de comunicação e comportamento e tornou-se ‘bilionário’ num par de meses.

O amigo, Edward, virou inimigo; acionou-o e obteve um acordo que o tornou proprietário do Facebook, com uma fração avaliada em 1500 milhões de dólares. Uma ínfima fração. Imaginem o valor de mr. Zuckerman. Nada mau para um miúdo judeu agnóstico, nascido nos arredores de NY e com um pai que o ensinou a programar computadores no berço.

Para quem criou um clube de amigos virtuais que se automultiplicam matematicamente, Zuckerman exibe comportamentos antissociais. Para compor a imagem pública reforçou as doações para caridade. Diz-se “um bom rapaz”. Não deixa de ser um atestado do estranho mundo em que vivemos, que substituiu o conhecimento e a experiência que são produtos do tempo pela informação célere e o voyeurismo, que um dos homens mais valiosos do mundo seja destituído de maturidade emocional.

O Facebook é um sucesso mas Zuckerman não foi, em rigor, o único inventor. Sem Sean Parker, um jovem multimilionário, genial, que aos 19 anos tinha inventado o Napster, Zuckerman não teria chegado lá. Como diz no filme, interpretado por Justin Timberlake, “a milion is not cool. A bilion is cool”. Sean, que já foi preso por consumo de drogas (e por isso saiu do Facebook, sendo conselheiro não oficial), é um alcoólico confesso e um viciado em festas e mulheres, em luxos e extravagâncias; e é uma mente brilhante que concebe o futuro, os apetites do futuro.

É um visionário, uma personagem mais complexa do que Zuckerman, a cigarra da formiga. Amigo do poder e de Hollywood, Sean Parker arranjou o financiamento do Facebook, por Peter Thiel (inventor do PayPal) e catapultou-o para a estratosfera. Este clube de génios domina o mundo dos adolescentes, e domina o futuro, até ser batido por outro clube, nascido na universidade onde existem mais génios por metro quadrado, Harvard. Como diz o (ex)reitor Larry Summers, é mais fácil inventar um emprego em Harvard do que arranjar um. Um clube masculino exclusivo onde não entram mulheres. Como disse o dito Summers, o génio que Obama mandatou para resolver a crise financeira, as mulheres não têm inteligência suficiente para a matemática. Parafraseando Woody Allen (em “Annie Hall”), são génios a mais. É bom conhecer umas estúpidas para variar.

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