The Facets of Intrusion

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Facetas de uma intrusão

por J.-M. Nobre-Correia04 Dezembro 2010 3 comentários

WikiLeaks. Da informação, da documentação e do jornalismo. Da inveja de uns, da raiva de outros e do eclipse de terceiros…

Que pensar desta nova (e alargada) intrusão de Wikileaks no mundo dos media ? E que media! Nada menos do que quatro prestigiosos diários de referência e um newsmagazine , que é a instituição por excelência do jornalismo de investigação alemão. O que merece reflexão. Mas uma reflexão quase inevitavelmente esparsa…

A publicação dos telegramas diplomáticos estado-unidenses mostra, caso fosse necessário, o poder imenso e incontrolável que é o da Internet em termos de informação. De informação e não forçosamente de jornalismo. Até porque Wikileaks não é uma empresa jornalística. Será, sim, uma central de documentos. E foi preciso que mais de uma centena de redactores de cinco medias interviessem para os transformarem em informação jornalística.

Esta intervenção põe, no entanto, uma questão de fundo : porque é que uma “fuga” de informação de tal importância foi endereçada a um sítio na Internet em vez de o ser directamente a um consagrado jornal de referência ? Não será porque a articulação dos media de referência com o Poder, com os meios dirigentes, é por vezes demasiado evidente, levando-os a exageradas “prudências” de realpolitik?

Houve pelo menos dois meios que reagiram mal à publicação dos telegramas diplomáticos. Os media concorrentes, primeiro, que não beneficiaram das liberalidades de Wikileaks. Mas, não duvidemos, nenhum teria hesitado em publicá-los, caso tivesse tido acesso a eles. Os meios diplomáticos, depois, que vêem assim posta a nu a graciosa hipocrisia que os caracteriza, assim como os pequenos e grandes segredos que queriam reservar sovinamente para eles, à revelia dos cidadãos e da democracia.

Os documentos de Wikileaks foram propostos a publicações de três das quatro maiores línguas europeias internacionais (o inglês, o castelhano e o francês) e à de maior implantação na Europa (o alemão). A terceira língua europeia internacional (o português) faltou uma vez mais ao apelo. Os editores lusófonos fariam bem em interrogar-se sobre as razões de tal exclusão…

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