WikiLeaks Screws Politicians and Journalists

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O WikiLeaks trama políticos e jornalistas

O extraordinário site WikiLeaks anda a divertir-nos com revelações tão notáveis quanto a da utilização de botox na velha cara do autor do Livro Verde de Kadhafi ou a da alcunha diplomática para os líderes russos, Putin e Medvedev, comparados a figuras de banda desenhada, o Batman e o Robin, ferozes combatentes em collants e sombrios adoradores de morcegos.

A demonstração prática do exercício profissional da hipocrisia que a diplomacia dos estados abriga não será grande surpresa, mas constatar que, depois do fim da Guerra Fria e do estilhaçar do bloco soviético, o exercício da espionagem norte-americana passa pela vigilância do próprio secretário-geral da ONU, é coisa para deixar de rastos o mais cego dos crentes na bonomia pacífica das nações ocidentais, ditas demo- cráticas, livres …

É evidente que as revelações do WikiLeaks são importantes. É óbvio que a exposição do pensamento íntimo dos diplomatas norte-americanos traz sarilhos à maior potência do mundo. É muito provável serem esquisitas as motivações do homem que lidera estas fugas de informação, Julian Assange, – entretanto sujeito a uma tentativa de descredibilização, possivelmente orquestrada pelos mesmos que denuncia. É inevitável que a diplomacia portuguesa será posta na berlinda – e, adivinho, ridicularizada – quando se noticiar o que dela se diz no meio das 250 mil páginas que o mundo está a conhecer. E sim, é verdade: o jornalismo parece estar em colapso.

Não, não estou a queixar-me por títulos de imprensa tão relevantes como o New York Times, o Le Monde, o El País, o The Guardian ou o Der Spiegel terem decidido publicar estas informações que ameaçam pôr em causa as relações internacionais entre os países mais importantes do planeta, podem efectivamente pôr em perigo vidas humanas se houver um erro naquilo que se noticia e têm uma componente voyeurista se calhar desnecessária. Se eu tivesse acesso àquelas informações, apesar de tudo, também as publicava.

Queixo-me, isso sim, é de nem os melhores jornais do mundo serem capazes de, por si só, merecerem a confiança das fontes para serem eles a conseguirem estas informações, trabalhando-as por claros critérios jornalísticos . Queixo-me por, como se constata, anos e anos de rotina, conformismo, politiquice, cobardia, carreirismo, mercantilismo e estupidez terem colocado os jornais, para o cidadão comum, ao nível de desconfiança que habitualmente se reserva aos políticos. Queixo-me por os jornais só parecerem jornais quando um qualquer WikiLeaks desafia a essência da sua razão de ser.

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