Obama Comes Around

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Anote, você leu aqui pela primeira vez: o presidente Obama, que chega ao Brasil nos próximos dias, tende a ser especialmente simpático às nossas posições e reivindicações porque somos o país do Hemisfério com grande população negra.

Lamento informar que se trata de uma previsão talvez inevitável em algumas cabecinhas ingênuas, mas perfeitamente idiota. Nas relações internacionais, e mesmo na arena política doméstica, presidentes americanos não têm cor nem etnia; se pudessem, não teriam sequer sexo definido. Com todo o respeito, é claro.

Essa ressalva não impede, evidentemente, que Washington atribua alguma importância à visita. Um presidente americano, é bom lembrar, não sai de Washington para fazer turismo. A América do Sul pode não ter importância crucial na agenda internacional de Obama, mas também está longe de ser desprezível. E o Brasil é o único país do hemisfério que faz parte do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), um bloco de razoável importância nas pendências e tendências da política internacional. O que certamente pode ter importância em situações críticas, como acontece hoje em relação à Líbia.

Na primeira visita de um presidente americano à América do Sul em muitos anos, Obama vai também ao Chile e a El Salvador. Parece uma agenda escolhida por sorteio, mas é preciso reconhecer que o Departamento de Estado às vezes tem razões que a razão desconhece. Para o governo brasileiro, a visita será um sucesso se Obama fizer aqui alguma declaração que, mesmo sem ser enfática, permita a interpretação de que os EUA não vetam a principal reivindicação de Brasília no cenário internacional: um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Obama já tomou essa posição em relação aos pleitos de Índia e Japão, e seria quase uma gafe diplomática se não fizesse o mesmo em relação ao Brasil.

Provavelmente, não seria um compromisso formal. O que faz parte do jogo. Visitas de chefes de Estado são episódios formais: as decisões realmente importantes são discutidas e acertadas pelos profissionais de cada chancelaria a portas fechadas.

É evidente que Obama não vem ao Brasil a passeio, nem para resolver problemas. E sim para sacramentar decisões já acertadas e interessantes para os dois países: presidentes raramente fazem as malas para buscar soluções, e sim para celebrá-las. Há um leque delas esperando os jamegões presidenciais.

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