Will Libya Be the First War of the Obama Era?

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A França começou de fato a primeira guerra da Era Obama ao atacar, neste sábado, com um jato, um veículo militar em terra na Líbia. Paris, Londres e Washington possuem, claro, a autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Porém dois dos três países-membros com assento permanente no Conselho, Moscou e Pequim, se abstiveram. A votação foi 10 a zero, com cinco abstenções. Os países e votos nesta decisão do Conselho permitem reflexões eloqüentes, como veremos a seguir.

O ditador Muamar Gaddafi foi o grande derrotado porque ninguém votou contra a resolução. Nem o Brasil. Mas para conseguir aprovar a resolução, conseguir mais do que o número mínimo de nove votos no Conselho de 15 integrantes, Londres, Paris e Washington tiveram de fazer gestões em nações “militarmente poderosas” como Portugal e África do Sul.

Comenta-se nos EUA que três mulheres convenceram Barack Obama a aceitar a parada intervencionista que tanto anima o governo francês. São elas a secretária de Estado, Hillary Clinton (seu marido Bill Clinton interveio na Iugoslávia para parar os massacres de muçulmanos no Coração da Europa, e foi bem sucedido), Samantha Power, conselheira internacional de Obama e autora de um livro mostrando que os EUA se omitiram nos massacres da África nos anos 90, quando 2 milhões de pessoas foram mortas numa mega rixa étnica, e Susan Rice, embaixadora dos EUA na ONU.

Mas o estranho é que embora Gaddafi seja velho e conhecido facínora, não há provas, nem em documentos de serviços secretos, nem nos Youtubes da vida, de que hoje estejam ocorrendo massacres e muito menos genocídio na Lìbia. Risco disso existe sim.

A Líbia, situada entre o Egito e a Tunísia, isto é, entre duas nações que passaram por revoluções repentinas na onda da internet, nessa avalanche de protestos ou gritos pela liberdade, é agora um país pode sofrer a intervenção de jatos até dos Emirados Árabes Unidos, pequena ditadura que votou a favor da resolução da ONU, mas tabém pequeno país que interveio, militarmente, dias atrás, no Barein, seu vizinho no Golfo Pérsico, por causa de mais ruma revolução que se descortinava nessa onda das revoltas da Era Digital. Por causa disso, a embaixadora Susan Rice até criticou os Emirados, mas agora o país é um exemplo, ou exemplar.

O Brasil de Dilma Rousseff se absteve e deu uma explicação razoável: a resolução da ONU, a nº 1973, tem uma conceituação vaga, exigindo que Gaddafi pare de atacar civis inocentes, mas sem restringir a intervenção a algo menor do que simples implantação de uma zona de exclusão aérea e contenção por aviões e mísseis a eventuais avanços ou desobediências do ditador líbio. Ou seja, a resolução permite que a intervenção evolua para uma ampla invasão internacional.

Os auxiliares, ou melhor, as auxiliares de Obama, garantem que os EUA não vão enviar tropas de jeito nenhum. A hipótese mais provável é que os EUA, assim que a poeira desses dias baixar, vai armar os rebeldes na cidade de Benghazi.

Os oito milhões de barris de óleo que a Líbia produzia diariamente voltarão a ser produzidos e servem e servirão de garantia para EUA e Europa. Enquanto um acuado Gaddafi chama os revoltosos de seguidores da Al Qaeda de Bin Laden, a realidade é que, na Era Obama, este presidente ganhador do Nobel da Paz tem desafios dificílimos: fazer voltar a florescer a economia americana, em apuros com desemprego e perda de capacidade de competir globalmente, e evitar repetir o erro da Era Bush e começar uma guerra. Bush decidia intervenções e guerras unilateralmente, sem dar bola para as Nações Unidas.

Os norte-americanos estão irritados por terem se metido no Iraque e no Afeganistão. Por isso participar dessa intervenção com aval da ONU parece um compromisso pétreo de Obama, que agora tem minoria na Câmara e no Senado. Mas mesmo se não bastasse a maioria de falcões conservadores no Congresso, mesmo se não houvesse as três mulheres guerreiras ao seu redor, Obama continuaria deixando claro, antes e agora nesses últimos dias: ninguém nos EUA quer mais saber de intervenção unilateral. Hoje uma guerra começa a ser ganha na ONU. Os EUA estão low profile, agindo discretamente. Obama no Brasil, longe do presidente Nicolas Sarkozy, o general da vez, e a chefe da diplomacia de Obama, a Hillary, lá em Paris, dizendo que Washington está dando apoio a uma decisão internacional, mas sem nem por hipótese aceitar desembarque terrestre de tropas norte-americanas na Líbia.

Com tanto apoio internacional, é bem provável que Gaddafi seja morto antes de um eventual avanço rápido da revolução, ou eclosão de uma guerra civil. A morte do ditador faria um bem ao mundo, que sempre fica menos triste quando uma sociedade fortalece a liberdade.

Por isso, independentemente do destino da Líbia e da crise nuclear no Japão, as ditaduras islâmicas continuam de cabelo em pé neste início de 2011, seja no Irã, na Arábia Saudita e em muitos outros lugares. Todos estão apavorados com a “ameaça da democracia” na era digital, na esteira da explosão da informação e suas revoltas, verdadeira tsunami de sonhos ávidos por liberdade e respeito aos direitos humanos.

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