The Death of bin Laden

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Forças especiais dos EUA executaram Osama Bin Laden nos arredores de Islamabad, no Paquistão. Foi o fim previsível para um homem que optou pela violência e apostou no terror para fazer valer as suas ideias. Os democratas de todo o mundo preferiam vê-lo sentado no banco dos réus de um tribunal. Se assim tivesse acontecido, pelo menos a democracia mostrava a sua superioridade moral face aos que são capazes de tudo para destruí-la.

Barack Obama e os seus conselheiros para a segurança decidiram seguir outro caminho, bem mais próximo daquele que foi trilhado durante mais de duas décadas pelo milionário saudita, transformado em guerreiro sagrado de uma guerra santa cruel. O século XXI não pode continuar a ser palco de velhas cruzadas do Ocidente contra os “infiéis”. O mundo cristão não precisa de resgatar o Santo Sepulcro nem os seguidores do Islão arrogar-se ao direito de impor as suas ideias, os seus princípios e a sua doutrina a todo o mundo.

Os tempos são de globalização. Ainda que não fossem, ficou provado, na época das Cruzadas, que ninguém tem força suficiente para impor a sua religião ou a sua verdade. E está igualmente comprovado que a Humanidade recebeu muito das civilizações que irradiaram da Arábia, tal como beneficiou da civilização ocidental – que tem o seu berço no território muçulmano. A paz e a justiça são valores intrínsecos a todas as religiões e bandeiras de todas as civilizações. A raça humana acolhe todas as ideias, todas as religiões e todas as verdades. Quem quiser impor a hegemonia de uma religião ou de um sistema sobre todos os outros, está condenado ao fracasso.

Em nome do Islão surgiram nas últimas duas décadas grupos radicais que cometeram crimes hediondos e violências bárbaras. Em nome do combate ao terrorismo, surgiram potências ocidentais que imitaram os seus adversários. Em muitos casos conseguiram ser ainda mais violentos e cometer o impensável: crimes graves contra a vida humana. O fundamentalismo islâmico é a face terrível de uma moeda que tem na outra “cara” a irracionalidade da guerra por qualquer motivo, como acontece no Iraque desde o início dos anos 90, ou agora na Líbia. E falo apenas destes dois países por razões óbvias.

Saddam Hussein foi o herói da guerra contra o fundamentalismo islâmico que soprava do Irão. Foi o melhor aliado do Ocidente nesse combate e das potências ocidentais recebeu todo o apoio, incluindo armas biológicas. Muammar Kadhafi foi um dos líderes mundiais que mais contribuiu para o combate ao terrorismo, ajudando a desmantelar grupos de fundamentalistas dispostos a tudo. E até deu uma preciosa ajuda para derrubar o Iraque de Saddam Hussein. Bem, os Estados Unidos enforcaram Saddam. Agora mataram um filho e os netos de Muammar Kadhafi, para “protegerem civis”. E mataram Bin Laden, sem combate, atirando o seu corpo ao mar, acirrando ódios no islamismo, muitos dos quais acreditam que Bin Laden era um deus na guerra santa contra o Ocidente. Enfim, os fundamentalistas recorrem à violência demencial e os EUA respondem com crueldade e violência. E não há espaço para a paz, nem para a democracia, nem para a justiça.

Às provocações de Washington ao mundo islâmico, este responde com provocações. E tudo isso só pode ter um objectivo: manter sempre a ferver o fogo da guerra. A violência só gera violência. A lógica do olho por olho e dente por dente está instalada no mundo, como se tivéssemos feito um caminho de regresso ao passado. Ninguém estende a mão a ninguém. Ninguém faz um apelo ao diálogo e à paz. Parece que todos se entendem, no meio de tanta provocação e de tanta violência.

Aparentemente ninguém quer parar para pensar e reflectir. Milhões de muçulmanos em todo o mundo glorificam Osama Bin Laden e juram vingar a sua morte. No Ocidente, assistimos a líderes políticos que se declaram felizes pela morte de um ser humano que já foi dos “bons” do lado de “cá”, quando prestou relevantes serviços como agente da CIA no combate ao comunismo soviético.

Face a tantos sinais dos senhores da guerra, cada vez me sinto mais grato aos seguidores de Jonas Savimbi, que tiveram a coragem de abandonar as armas e repudiar a violência. Também neste aspecto Angola deu uma grande lição ao mundo, que os líderes políticos ocidentais e os islamitas deviam seguir. A paz é um valor que deve mobilizar tudo e todos, independentemente do credo religioso, das opções políticas e das ambições de cada um. Mas a espiral de violência que varre o mundo mostra que há cada vez menos defensores da paz e da concórdia universal. O negócio da guerra, pelos vistos, é a melhor saída para a crise.

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