Em artigo publicado esta semana e que restou como um dos mais visualizados da internet, o filósofo Noam Chomsky, criticou duramente a operação que levou à morte de Osama Bin Laden. O artigo cujo título é My Reaction to Osama Bin Laden’s Death (algo como Minha reação à morte de Osama Bin Laden), o intelectual norte-americano critica o que chamou de assassinato planejado, sem que houvesse uma tentativa de capturar vivo um alvo aparentemente desprotegido.
Embora a opinião de Chomsky, que resta sem meio-termos em sua avaliação, possa vir a ser questionada em seu próprio país ante sua inegável posição de esquerda, ela soma-se a outras em todo o mundo, questionando o Governo democrata de Barack Obama que, dentre outras coisas, admitiu que houve a realização de práticas não ortodoxas de interrogatório para se chegar ao paradeiro de Bin Laden. Para quem não se recorda, o discurso de Obama, ao buscar a diferenciação da administração Bush, era outro, um deles, de forma bem clara, inclusive, prometia o fechamento de Guantánamo, um dos cartões-postais da administração anterior e uma prisão que mais simboliza para grupos de militância pelos direitos civis, uma pedra no histórico democrático dos EUA.
Algumas regras comezinhas de direito internacional, aliás, foram esquecidas pelos EUA quando resolveram enviar comandos armados para outro País, a fim de capturar o então terrorista mais procurado da história. Antes mesmo da operação, como admitiu o atual chefe do FBI, as práticas de interrogatório que simulam afogamentos, privação do sono e outras barbaridades que não se coadunam com um discurso que buscava ser diferente do que os republicanos comandados por George Bush e Dick Cheney pensavam e praticavam, foram colocadas em prática a fim de conseguir extrair o endereço de Bin Laden. Se internamente a morte de Bin Laden serviu para reerguer a popularidade de Obama, aos olhos internacionais os EUA continuam sendo o mesmo País de antes, em que pese o carisma de Obama distinguir do carrancudo Bush.
Em seu texto, Chomsky levanta a tese de que até hoje não houve um julgamento a fim de que Bin Laden respondesse pelos acontecimentos de 11 de Setembro. Em solo americano, aliás, o due process of law e o fair trial são dois pilares do direito dos EUA e emblemáticos na construção de sua democracia e que parecem completamente alienígenas quando se tratam de estrangeiros em situação suspeita para os EUA. Nisso, Chomsky provoca com razão quando ressalta que o tratamento dado aos perseguidos na tal “Guerra ao Terror” iniciada por George Bush, não dispõem. Isto tudo sem mencionar as prisões secretas, o tratamento dado aos presos de guerra e as recentes denúncias dadas pelo Wikileaks, de que muitos dos presos detidos em Guantánamo foram posteriormente descartados como inocentes, por absoluta falha da inteligência dos EUA.
A discussão nas mídias sociais e na internet apenas começou. O que temos de diferente neste novo século, é um jornalismo igualmente novo, anabolizado por leitores que utilizam o caráter colaborativo e participativo da internet em prol da discussão. Não foi por acaso que o assunto Bin Laden se tornou um dos mais comentados de toda a história online. É de se esperar que essa facilidade de incentivo ao debate, faça também com que as discussões se aprofundem, coisa que há alguns anos, era privilégio apenas das academias, através de seminários e debates presdenciais. Nisso as novas mídias sociais vêm contribuindo sobremaneira quando se percebe a velocidade com que assuntos atuais sejam tratados e compartilhados por todo o planeta.
No caso da morte de Bin Laden, e muitas outras por vir, muitos irão dizer que os fins justificam os meios, é claro. Mas aí deve morar o maior temor, seja para os próprios norte-americanos ou para o resto do planeta. Eu mesmo, quando estive em Nova York no dia 11 de setembro de 2001 e vivenciei o terror que aquela Manhattan apavorada viveu na manhã daquela terça-feira, a qual nunca mais esquecerei (texto que ficará para uma outra coluna), senti na pele o que o terrorismo nos arrebata de liberdade e injeta de medo. Mesmo assim continuo um defensor das regras básicas de direitos humanos, até porque ao olvidarmos às normas internacionais, o máximo que iremos conquistar é nos assemelhar à barbárie.
O retorno a práticas que ferem nitidamente regras de direito internacionais e invocam táticas medievais de tortura, prejudicam não apenas a imagem dos EUA, mas também de toda a humanidade. Vale lembrar de quando Obama se elegeu bradando uma mudança ao estilo de governo republicano desempenhado por Bush, o mundo todo viu desnudada uma divisão indelével no País. Direitos civis de um lado e desejos imperialistas de outro marcaram bem o embate político que se viu na última eleição presidencial. A palavra “Mudança” (Change) foi utilizada de forma contundente e reiterada pela campanha de Barack Obama, deixando claro que sim, era possível mudar.
Ao buscar se distanciar de Bush, Obama garantiu sua eleição para o primeiro mandato. Para garantir o segundo mandato, entretanto, e sua consequente reeleição, Obama tenta cada vez mais se parecer com Bush. E a mudança, tão propalada quando se elegeu, parece ter ficado só no slogan batido de campanha. Nisso, Obama difere totalmente de Noam Chomsky, que se mantém fiel ao seu discurso.
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