A política externa dos EUA pós-Bin Laden
O que será que muda na política externa americana com a morte de Osama bin Laden? Essa pergunta vem ocupando muitos analistas nos últimos dias. Para alguns, a resiliência do complexo industrial-militar dos EUA vai evitar freadas bruscas nas guerras que Washington trava ao redor do mundo. Principalmente, não deve mudar muito o ritmo de retirada das tropas americanas do Afeganistão. Para outros, a morte de Bin Laden –encontrado em território paquistanês, bem longe da fronteira do Afeganistão, é bom lembrar –deixa os EUA sem muita justificativa para manter seu projeto de construção de nação no país dos Taleban. Os dois mais respeitados legisladores americanos quando se trata de política externa –o senador democrata John Kerry e o republicano Dick Lugar– foram a público argumentar que os enormes contingentes americanos no Afeganistão já não fazem muito sentido.
Rheva Balla, diretora de pesquisas da respeitada consultoria de risco geopolítico Stratfor, acha que morte de Osama bin Laden vai levar a uma aceleração na retirada de tropas americanas no Afeganistão e, ainda mais importante, a mudanças no foco da política externa dos EUA, com maior atenção na ascensão da China. “Os EUA estão reorganizando as prioridades de seu portfólio de política externa e a guerra no Afeganistão não vai estar entre as prioridades estratégicas”, disse-me Rheva. “Vamos voltar nossa atenção aos países que se aproveitaram de nossas preocupações com o mundo islâmico na última década, como China, Rússia e Irã”.
Ela lembra que, enquanto os EUA se ocupavam das guerras no Afeganistão, Iraque e e turbulências no Oriente Médio, o resto do mundo continuava andando. A Rússia vem reconsolidando sua influência na periferia das ex-repúblicas soviéticas, a China vem enfraquecendo o poder dos EUA no Pacífico e o Irã está se preparando para o vácuo de poder no Iraque.
‘Vai levar algum tempo, porque há problemas econômicos para os EUA consertarem em casa. Mas o tema de fim da guerra vai ganhar força ao longo do ano. E já vemos a China, Rússia e Irã recalculando suas estratégias na medida em que os EUA começam a liberar suas capacidades para lidar com outras questões’, diz ela.
A questão mais imediata, para Rheva, será a contenção do Irã e como lidar com os efeitos da Primavera Árabe. Os EUA vão ter de buscar alternativas aos atuais regimes e planos de contingência. A Rússia, que vem avançando em locais como a Ucrânia e Ásia Central, pondo todos os países europeus de guarda, e aumentou muito sua alavancagem energética, também ganhará mais atenção. “É necessário conter essa ressurgência russa voltando a apoiar aliados como Polônia, Romênia, Turquia e Geórgia”, ela diz.
A China, obviamente, era um grande foco estratégico dos EUA antes do 11 de setembro e naturalmente a ênfase agora volta.”Os EUA já estão tentando reforçar suas alianças com o Japão e países do sudeste asiático para criar uma política de contenção na região do Pacífico.”
Já a América Latina, feliz ou infelizmente, continuará no fim da lista de prioridades dos EUA, diz Rheva. Com ou sem bin Laden, a região continuará sendo negligenciada, apesar da ascensão –pacífica, é bom ressalta– do Brasil.
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