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Posted on June 10, 2011.
Nas últimas semanas, vários politicos republicanos anunciaram a entrada, a não entrada e a saída da corrida das primárias presidenciais no ano que vem. Os anúncios devem continuar ao longo dos próximos dias. Mas nenhuma destas notícias tem o impacto da não notícia que é a reaparição de Sarah Palin.
Sei, sei, claro que é notícia tudo o que faz a ex-candidata a vice-presidente e ex-governadora do Alaska, mesmo quando não faz nada. Existe esta simbiose entre a mídia e Sarah Palin, nós e ela.
Afinal, o que Sarah Palin está não fazendo? Com sua família, ela embarcou numa road trip de ônibus por lugares históricos dos EUA. No domingo, no feriadão do Memorial Day que é o início não oficial da férias de verão por aqui, ela até andou na garupa de moto, numa parada de veteranos de guerra em Washington. Carona fácil para ter visibilidade. A visão convencional é que Sarah Palin está testando as águas para decidir se entra na corrida presidencial.
A imprensa, claro, está freneticamente “viajando” com esta política não convencional. As especulações correm soltas. Na verdade, a imprensa está meio perdidona seguindo Sarah Palin nesta viagem sem roteiro rígido. Teve até visita a um monumento da nova história americana, Trump Tower, em Nova York, para se reunir com o dito cujo.
Vamos tenta entender o que se passa na ala circense do Partido Republicano. Deve engolir as palavras quem anunciou a morte política de Sarah Palin. Os atestados de óbito foram prematuros. Entre outras coisas, nós, os jornalistas, estamos sempre a postos para mantê-la viva no noticiário. Sarah Palin continua insuperável na capacidade de fazer onda e mobilizar uma fervorosa base conservadora. Não precisa fazer nada muito substantivo, basta disparar alguns adjetivos contra Barack Obama, expressar alguma peroração sobre como ela representa a verdadeira América e reclamar da hostilidade da imprensa. Melhor ainda, basta andar na garupa da moto e posar de patriota em lugares históricos.
Sarah Palin é uma sensação, pois tem este talento midiático, enquanto a maioria na multidão de candidatos republicanos não tem. Sua química populista parece genuína, em contraste ao jeitão soberbo do presidente Obama. Os democratas insistem que Sarah Palin é ideal contra Obama no grande duelo presidencial de novembro de 2012. Ele gera fervor num setor da base republicana, mas tem alto índice de rejeição no eleitorado em geral e a persistente reputação de não ter qualificação para a presidência.
Não é a toa que existe inquietação entre muitos caciques e marqueteiros do Partido Republicano sobre Sarah Palin. Gurus eleitorais como Karl Rove não se cansam de alertar sobre o dano que ela pode causar ao partido. Na imprensa, circulam histórias apimentadas (e obviamente desmentidas) sobre os comentários de Roger Ailes, o chefão da Fox News (onde ela tem contrato) lamentando ter gerado um monstro político. Em linhas gerais, Sarah Palin representa uma insurgência populista contra o establishment republicano e seu batalhão de candidatos convencionais. Poucos políticos ousariam tratar a imprensa com o pseudodesprezo de Sarah Palin e pegar caronas pouco ortodoxas na jornada política, como é o caso dela. Há o libertário Ron Paul, mas no final das contas ele é uma mistura de original com bizarro.
Eu gostaria de falar algo menos convencional e menos condescendente sobre Sarah Palin. Ela é atraente, carismática e com este talento para confundir e surpreender, como na realização desta road trip, um pseudoevento cheio de significado. Tem também a ojeriza lulista pela atitude intelectual. Quem vai para Harvard, como Obama, é elitista. E, ao estilo Lula, há o negócio voluntarista do deixa-comigo, vai-que-vai. Basta ter faro do povo.
Existe ainda o narcisismo obamista com a incrível capacidade para formular uma narrativa. No caso dela, do gênero mamãe-ursa do Alaska, capaz de dar conta de vários recados, como cuidar da família e talvez salvar o país de gente que não é genuinamente americana, como o presidente. Mas, apesar de tudo isto, é bobagem chamar Sarah Palin de oca, com seu potencial de mexer de forma substancial as peças no tabuleiro das primárias republicanas (mesmo ficando de fora) e fixar a agenda em torno de temas como corte de despesas (pertinente) e conservadorismo social (impertinente).
Azar dos eleitores republicanos, que deveriam investir em gente mais séria e com foco nas questões fiscais e não nas guerras culturais que empolgam Sarah Palin. Eu mais para frente escrevo de gente como Jon Huntsman, o ex-governador de Utah, com potencial de ser um respeitável desafiante contra Obama (e um raro pretendente republicano com bagagem internacional). O drama de políticos como Huntsman é sobreviver às primárias republicanas, com suas palhaçadas e palinadas (não é mais edificante entre os democratas).
Bem, é uma corrida eleitoral e não dá para fugir da reta. É preciso terminar com um palpite. Eu acho que Sarah Palin não vai participar da maratona republicana. Esta reaparição (esta carona dada por nós) é mais um lance de brand management, a administração da marca e a capitalização da celebridade. Nada como ter visibilidade, integrar o circuito de palestras altamente remuneradas para falar platitudes lulistas, renovar o contrato com a Fox e manter um papel influente na conversação nacional sem a responsabilidade de gerenciar os pepinos federais. Se estiver eu errado, de castigo (nada penoso) faço uma road trip de Nova York para o Alaska.
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