A Home in Florida Is Worth More Than the White House

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Em vez de bastião dos capuzes brancos do Ku Klux Klan, o Sul dos Estados Unidos é visto hoje pelos negros como terra das oportunidades ou um sítio para viver ao sol os anos da reforma. Numa década, tanto a Florida, como a Georgia e o Texas ganharam meio milhão de negros. E o acréscimo foi também de centenas de milhares na Carolina do Norte, a ponto de os dados do censos darem 57% dos afro-americanos a viver no Sul, o valor mais alto em meio século.

O movimento explica-se por um desejo de regresso às raízes, mas também serve tanto ou mais que a eleição presidencial de Barack Obama como prova que o racismo recua no país do Tio Sam. Afinal, o Sul é aquela parcela dos Estados Unidos que foi para a guerra em 1861 para defender a escravatura e que nos cem anos seguintes fez tudo para negar os direitos cívicos à sua população negra, até linchar quem não se vergasse.

Desde Marcus Garvey, que tentou embarcar os descendentes de escravos e levá-los para África, até aos Panteras Negras que misturavam raça e revolução, a história está cheia de exemplos de desilusão dos negros com o célebre Sonho Americano. Houve até quem quisesse criar uma pátria separada, juntando o Mississípi, o Alabama, a Jórgia e as Carolinas, apesar de nenhum destes estados chegar a ter metade da sua população negra.

Mas há outra corrente entre os afro-americanos que sempre lutou pela integração. Gente como Booker T. Washington, que um convite de Theodore Roosevelt tornou o primeiro negro a jantar na Casa Branca. Ou como Luther King, que encabeçou a luta pelos direitos cívicos e hoje dá nome a um feriado. Ou ainda Colin Powell, que chegou a chefe máximo das forças armadas e que se quisesse podia ter ido mais além que liderar a diplomacia de Bush filho. Mais discretos, junte-se os antigos polícias de Nova Iorque e os ex-operários do automóvel de Detroit que agora investem as poupanças numa casinha para a velhice na Florida ou os executivos que trocam o Nordeste e os Grandes Lagos por uma Jórgia e um Texas onde a economia mostra melhor saúde que no resto dos Estados Unidos.

Para fugir à pobreza, à discriminação e aos linchamentos, sete milhões de negros deixaram o Sul na primeira metade do século XX, a chamada Grande Migração. Aliás, em 1900 nove em cada dez afro-americanos viviam ainda nas terras onde os pais e avós tinham sido escravos. Que agora o Sul já não lhes meta medo é notável. Obama, filho de um queniano e de uma branca do Kansas, só conhece esta saga dos afro-americanos via Michelle, a mulher. Mas, como Presidente, deve estar feliz de que a sua chegada à Casa Branca não seja um oásis no deserto. E, de olhos na reeleição em 2012, esfregará as mãos de contente com este regresso ao Sul. O voto negro é seu e ganhar na Florida costuma ser decisivo. Afinal, a Casa Branca pode depender da tal casinha que muitos reformados negros andam a comprar.

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