American Troops in Afghanistan

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Começou a retirada, anuncia a comunicação social. Devagar, devagarinho, se calhar para que a coisa não pareça aquilo que é – uma derrota.

As tropas invasoras norte-americanas estão a retirar-se do Afeganistão. Em relação à NATO as coisas são ambíguas, muito ambíguas porque as fissuras na aliança militar ao serviço do império são cada vez mais evidentes, reparem no que está a acontecer na Líbia, onde agora até o primeiro ministro italiano diz que é contra a agressão militar e que o seu país só participa porque ele, que sempre foi contra, diz que está “de mãos atadas” pelo Parlamento … onde tem maioria absoluta.

Diz-se, pois, que um contingente de 800 marines iniciou o processo de retirada. É verdade que não se sabe que retirada é esta, como vai acabar, o que fica no terreno – além das bases militares norte-americanas – quando a operação for dada como terminada.

Obama tinha de cumprir prazos que ele próprio estabeleceu porque agora está noutra guerra, no Congresso de maioria republicana, por se ter “esquecido” de lhe ter pedido autorização para continuar a agredir a Líbia para além dos 90 dias iniciais. E os republicanos, onde se acoitam os mais falcões dos falcões norte-americanos e que por norma são a favor de qualquer guerra, com ou sem lei, como ou sem resoluções da ONU, tiveram um rebate de formalismo e abriram hostilidades políticas porque o Presidente estendeu o prazo de uma guerra.

Eleições à vista!Esta retirada do Afeganistão é, antes de mais, um grande ponto de interrogação. Em alguns casos, porém, já existem respostas.O anúncio do início da retirada é, sem qualquer dúvida, uma confissão de derrota do império e da NATO.A guerra acabou? Não. Os talibãs foram desmembrados e desactivados? Não, estão tão activos como sempre estiveram? O Afeganistão é um país estável, democrático e em paz? Não, o Governo instalado pela NATO é um antro de corrupção, pouco mais governa do que Cabul (e ainda assim…) e foi instalado através de vários processos eleitorais consabidamente fraudulentos. A cultura, produção e tráfico de ópio e heroína foram desmantelados? Não, o comércio da droga nunca foi tão florescente como hoje no Afeganistão, país que adquiriu uma quota de 90 por cento do abastecimento mundial, um monopólio acarinhado por quem se diz tão anti-monopolista na economia. Ao fim destes dez anos de “invasão civilizadora”, o Afeganistão é um país consistente, unido? Não, as forças desagregadoras nunca foram tão fortes e, além das naturais zonas de influência tribais, nunca as forças separatistas em algumas regiões foram tão fortes e activas como agora.É verdade: Washington conseguiu quase no limite destes dez anos anunciar que liquidou Bin Laden, o objectivo principal da invasão, mas nem ao menos esse episódio é claro, são muito mais as dúvidas do que as certezas.

E entre estas há duas relevantes: Bin Laden parece mesmo estar morto, apesar das ambíguas andanças do cadáver anunciado como sendo o dele e os Estados Unidos abriram como este episódio uma frente de conflito com o Paquistão, o seu principal e decisivo aliado na região.Além disto, nada mais é claro na retirada.

Os Estados Unidos admitem agora, um pouco em surdina, que estão a negociar com os talibãs “bons”. Mas os talibãs, os “bons” e os “maus”, negam, todos, essas negociações e se a retirada americana fosse mesmo uma retirada depressa reduziam a frangalhos os aparelhos que a NATO lá preparou como “forças de segurança” nacionais.

Eis o contexto do anúncio do início da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão: dez anos, centenas de milhares de mortos e estropiados, milhões de milhões de dólares depois, o império sai inequivocamente derrotado e a “ordem internacional” fica ainda mais desacreditada.O Afeganistão, o mundo, a humanidade só perderam com mais esta guerra. Mas houve quem ganhasse e continue a ganhar com ela – desde a indústria militar ao negócio da droga.

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